O município de Miguel Calmon situa-se na região Centro-Norte da Bahia e tem cerca de 27.000 habitantes. O município é gestão plena da Atenção Básica e conta com 10 Equipes de Saúde da Família sendo a maioria composta também por equipe de saúde bucal e 73 Agentes comunitários de Saúde distribuídos entre elas. O município tem uma grande extensão territorial e mais de 60 pequenos povoados. Durante a Pandemia por COVID-19 a Coordenação de Atenção Primária teve uma árdua tarefa de reorganizar em um curto espaço de tempo todo fluxo natural de atendimento e acompanhamentos dos cidadãos além de realizar ações de vigilância e atendimento as pessoas suspeitas e confirmadas de infecção pelo novo coronavírus. Para tornar a situação ainda mais delicada, foi necessários afastar os trabalhadores da saúde que tinham alguma comorbidade que fazia do seu trabalho uma situação de risco, o que reduziu ainda mais o quadro de pessoal tornando a atividade de reorganização ainda mais delicada.
O objetivo da reorganização da rotina das equipes de Atenção Básica do município foi o de manter o atendimento e acompanhamento dos cidadãos cadastrados nas equipes, além de ampliar a atenção para os casos suspeitos e confirmados de infecção pelo COVID-19 tudo isso respeitando as normas sanitárias de prevenção da doença. Apresentar essa nova forma de trabalho para os demais municípios do país, reveste-se da maior importância para que durante essa pandemia e quaisquer outro evento trágico que por ventura venha acontecer possamos repetir as estratégias positivas e reavaliar as estratégias que não deram certo.
O primeiro passo dado pelo município foi criar um comitê municipal de enfrentamento ao COVID-19. O Grupo formado por diversas representações da sociedade se reúne periodicamente através do aplicativo G. MEET, as decisões são pautadas por uma equipe técnica da saúde e divulgadas em uma rede social própria do Comitê. As pessoas que ficaram desempregadas durante a pandemia foram treinadas e alocadas em barreiras sanitárias e grupo móvel de denúncia. As costureiras da cidade foram contratadas para fabricação de máscaras de tecido. Pias com sabão e papel toalha foram instaladas em praças públicas da cidade. Os profissionais da saúde que tinham alguma comorbidade foram convocados para compor duas centrais telefônicas, uma para ATENDIMENTO de denúncias, dúvidas e atendimento clínico e outra para MONITORAMENTO tanto dos casos notificados pelas equipes de Atenção Básica quanto das fichas oriundas das barreiras sanitárias. Os casos suspeitos/confirmado do tipo LEVE eram orientados via telefone, os casos do tipo MODERADO eram atendidos em uma Unidade de referência exclusiva para esse atendimento e os casos GRAVES eram encaminhados de forma referenciada para o Hospital Português que criou uma ala exclusiva para atendimento desses pacientes. Todo o atendimento das UBS foi reajustado tendo em vistas as regras sanitárias para evitar contaminação pelo COVID-19 e as ações de educação permanente ganharam o formato virtual e como pauta principal o trabalho diário nas UBS em tempo de pandemia.
As novas medidas tiveram resultados bastante positivos: PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES DA SAÚDE – Considerando o afastamento dos profissionais com comorbidade e atendimento nas Unidades agendado via telefone com horário marcado e excluindo casos suspeito/confirmado de síndrome gripal OTIMIZAÇÃO DE RECURSOS COM EPIS – Tendo um maior aporte de EPIs a Unidade de referência para síndrome gripal MAIOR CONTROLE DOS CASOS SUSPEITOS E/OU CONFIRMADOS- O monitoramento é realizado diariamente via telefone/whastapp além da visita do ACS AS DECISÕES TOMADAS PELO COMITÊ ERAM RESPEITADAS EM SUA GRANDE MAIORIA – considerando que a sociedade civil organizada participada das decisões OS ATENDIMENTOS DE ROTINA DAS UNIDADES (PRÉ-NATAL, PUERICULTURA, ETC) CONTINUARAM ACONTECENDO – pois oferecemos a segurança que os pacientes suspeitos/confirmados eram agendados e atendidos em uma Unidade de referência, além de oferecer máscara de tecido para toda população que requisitasse. Como resultados negativos podemos citar a dificuldade em lidar com a população de rua e as comunidades tradicionais, sobretudo os povos ciganos que recusavam seguir as recomendações sanitárias inúmeras vezes. E a falta de recurso humano e logístico suficiente para monitorar presencialmente (através da equipe móvel de denúncia) os mais de 60 povoados do município.
Concluímos que as ações tomadas pelo município desde inicio da pandemia até o exato momento foram extremamente importantes para conter o avanço da doença no município e conseguir preservar a quarentena do município sem grandes transtornos, assim como manter o isolamento e testagem dos sintomáticos respiratórios notificados. O Núcleo de Estudos Geográficos da UNEB – Campus IV publicou um relatório da região Centro-Norte, em que Miguel Calmon aparece com um dos municípios com a menor taca de incidência (22,67%) em comparação a taxa de incidência da regional que foi de 48,03% até data da última publicação. Além disso, as Unidades de Saúde conseguiram se manter em funcionamento mesmo durante a pandemia, sem gerar grandes transtornos para população. Finalizamos então considerando que nossas estratégias de reorganização foram eficientes e poderão ser repetidas caso necessário.
ATENÇÃO BÁSICA, REORGANIZAÇÃO, COVID-19, PANDEMIA