A pandemia de Sars-CoV-2, trouxe muitos desafios à gestão pública de saúde, dentre estes garantir porta de entrada na rede SUS a toda a população com suspeita de síndrome gripal e identificar pacientes com maior risco de complicação. No período inicial da pandemia, havia em nosso meio desconhecimento sobre a evolução clínica da doença e a orientação inicial para a população foi de buscar atendimento médico apenas quando sinais de desconforto respiratórios fossem observados. Com o maior conhecimento dos grupos de risco e das complicações observadas nos pacientes acometidos, ocorreu um ajuste nesta orientação, sendo elaborado pela Secretaria de Saúde do município de Sorocaba-SP, fluxos de triagem clínica e laboratorial para identificação precoce de pacientes de maior risco e com sinais de gravidade, visando pronta abordagem terapêutica e internação destes pacientes. Junto à implantação dos fluxos de encaminhamento foi realizado a abertura do Hospital de Campanha para COVID-19, aumentando a capacidade de internação hospitalar no município.
O objetivo do estudo é apresentar o fluxo elaborado para triagem dos pacientes na rede de atendimento SUS do município, apresentar o perfil epidemiológico dos casos internados e confirmados para COVID-19 extraídos do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP) nos períodos pré e pós fluxo e avaliar o impacto das medidas implementadas na letalidade destes casos.
Estudo epidemiológico descritivo dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) confirmados como COVID-19, a partir de levantamento dos dados do SIVEP, em dois momentos, pré-fluxo, abril e maio (amostra 1; 334 indivíduos), e pós-fluxo, junho e julho (amostra 2; 755 indivíduos) de 2020. Para cada amostra foram analisadas, mediana de idade, medidas de frequência absoluta para sexo e presença de comorbidades e letalidade.
A partir de junho de 2020 foi organizado fluxo de encaminhamento para pacientes com síndrome gripal, com aplicação em todas as unidades de saúde pública municipal, através de triagem com a verificação de Saturação de O2, frequencia respiratória e presença de fatores de risco. Pacientes com oximetria menor de 95%, taquipneia ou presença de fatores de risco eram encaminhados para unidade pré hospitalar de referência e submetidos a nova triagem com aplicação de escala qSOFA. Pacientes com escore de qSOFA 0 eram submetidos a triagem labaratorial inicial (hemograma, PCR, dímero D e raio x de tórax) e se alterados, indicado internação em Hospital de Campanha. Pacientes com escores acima de 1 eram submetidos a testagem laboratorial mais extensa e indicado internação em enfermaria ou unidade de tratamento intensivo. Em relação ao perfil dos grupos, observa-se: sexo grupo 1 (F 38,6%/ M 61,4%) e grupo 2 (F 44,3% M 55,7%); mediana de idade grupo 1 foi 56 anos (2- 90) e no grupo 2 foi 57 anos (1- 94) e presença de comorbidades apontada em 65,2% do grupo 1 e 65,4% do grupo 2 . Quando se compara a letalidade entre as amostras, 40,41 na amostra 1 anti 26,09 na amostra 2, observa-se redução em 35%.
Ao analisarmos as variáveis de idade, sexo e comorbidades nas amostras, observa-se que não há diferenças significativas entre os grupos, permitindo comparação em relação a letalidade. A organização do serviço com implantação de fluxos de triagem a partir de critérios clínicos e laboratoriais para a decisão de conduta final levou à notável queda na letalidade pela doença e aumento no número de casos internados confirmados para COVID-19. Na ausência de medicações específicas para tratamento do Sars-Cov-2, a triagem dos pacientes e a identificação precoce de sinais de potencial gravidade, mostrou-se estratégia eficaz na redução da letalidade.
Fluxo de triagem precoce; letalidade; COVID-19