A pandemia ocasionada pelo COVID-19 trouxe à tona a necessidade de adequações nos serviços de saúde, de forma a atender as pessoas acometidas/suspeitas de infecção pelo coronavírus, sem que houvesse prejuízo para o cuidado já prestado às pessoas acometidas por diversas outras comorbidades. Diante deste cenário, considerando os decretos governamentais o Plano de Contingência para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (Covid-19) do município de Arapiraca-AL a necessidade de conter a propagação, disseminação e transmissão do Covid-19 e ainda a importância das consultas especializadas principalmente para os usuários que apresentarem agravamento de suas morbidades e/ou condição de investigação de nova patologia que exijam atendimento pelo especialista, foi elaborado e implementado um novo projeto pela Secretaria Municipal de Saúde de Arapiraca. Este foi desenvolvido por meio da Superintendência de Atenção à Saúde e Diretoria de Atenção Especializada e consiste no deslocamento dos atendimentos das especialidades, antes realizado no Centro de Referência Integrada de Arapiraca – CRIA, para as Unidades Básicas de Saúde – UBS, durante o tempo em que durar a pandemia.
Descrever a experiência de adequação da atenção especializada em meio à pandemia do COVID-19 por meio da realização de consultas especializadas nas unidades básicas de saúde - UBS, evitando o deslocamento da população, facilitando o acesso aos especialistas e possibilitando a assistência aos usuários com agravo de morbidades e/ou condição de investigação de nova patologia.
A estratégia de realização das consultas especializadas nas unidades básicas de saúde organizou-se baseada na necessária integração entre Atenção Primária - AP e Atenção Especializada - AE, visando a integralidade do cuidado mesmo em meio à pandemia por COVID-19. Para tanto, inicialmente foi elencado pelas Apoiadoras Técnicas da Atenção Primária as UBS que seriam referência para o atendimento especializado, considerando localização, acessibilidade e infraestrutura. Desta forma, foram elencadas 22 UBS. Estas passaram a receber os especialistas em esquema de rodízio, com programação previamente definida para a realização de consultas. As demais UBS não escolhidas, foram relacionadas àquelas, permitindo também a assistência ao usuário que não pertencia às 22 unidades base. Foram elencadas ainda as competências dos atores sociais envolvidos na estratégia, a saber: Médico da AP, Gerente da UBS, Gerente do CRIA, Médico da AE e Usuário. Estabeleceu-se que cada especialista realizaria seis consultas por turno de trabalho, podendo haver um encaixe de urgência para cada especialidade. As especialidades médicas participantes foram: dermatologia, cardiologia, cardiologia infantil, endocrinologia, alergologia, otorrinolaringologia, ortopedia, neurologia, reumatologia, urologia, ginecologia, pneumologia, gastroenterologia e mastologia. Foram ainda realizadas consultas com nutricionistas.
As consultas foram iniciadas em 18 de maio e seguem acontecendo até o presente momento. O fluxo de organização foi assim definido: o médico da AP define os usuários que necessitam de atendimento especializado considerando o agravamento de suas morbidades e/ou condição de investigação de nova patologia e realizam o encaminhamento. O gerente da UBS envia lista com nome dos usuários à gerente do CRIA, que será responsável pela marcação das consultas, além das escalas dos profissionais em esquema de rodízio, afim de disponibilizar todas as especialidades à população. Os atendimentos são agendados para a semana seguinte e os usuários são avisados das marcações das consultas pela gerente da UBS, com o auxílio dos agentes comunitários de saúde. Desta forma, o usuário comparece para consulta no dia, local e hora previamente agendados, estando munido de seus documentos pessoais e encaminhamento do médico da AP. Os prontuários contendo as informações dos usuários são enviados conforme agendamento à UBS pela gerente do CRIA, sendo estes devolvidos após a consulta. A partir do mês de agosto o número de consultas foi ampliando para oito consultas especializadas por turno de trabalho. Desta maneira foram realizadas até o dia 21 de agosto 3598 consultas agendadas, sendo 486 no mês de maio, 1110 no mês de junho, 1114 em julho e 888 em agosto.
Adequar o atendimento realizado pela AE, deslocando as consultas com os especialistas para o território adscrito às UBS configurou-se uma estratégia assertiva e passível de replicação em outros momentos históricos, e até por outros municípios caso se faça necessário. Possibilitou diminuir o fluxo de pessoas circulantes no município, trazendo o atendimento para o território onde residem as pessoas. Estando mais próxima da população e certamente mais acessível, a atenção especializada foi capaz de prevenir o agravamento de morbidades preexistentes, diagnosticar em tempo oportuno novas patologias e diminuir a incidência de hospitalização por complicações das morbidades, permitindo que o atendimento às pessoas acometidas/suspeitas de infecção por coronavírus fosse priorizado pelos serviços sem grande interferência de outras comorbidades.
Encaminhamento e Consulta, Integralidade em Saúde, Pandemias.