No CAPS, a arte em suas várias expressões vem sendo utilizada nas oficinas terapêuticas, a arte é capaz de produzir subjetividades e catalisar afetos, o seu valor na reabilitação e reinserção está na possibilidade do usuário trabalhar e descobrir suas potencialidades para conquistar espaços sociais. A oficina terapêutica permanente–Artesanato, permite a possibilidade de proeminência de atividades artísticas, com a valorização do potencial criativo, imaginativo e expressivo do usuário, por meio da pintura em papel, tecido, barro, além de costura e outros, promovendo assim, fortalecimentos de vínculos familiares, da autoestima e da autoconfiança, a miscigenação de saberes e a expressão da subjetividade. Com a pandemia do novo coronavírus as medidas de prevenção e controle de infecção foram implementadas no CAPS com a adequação do plano de contingência em saúde mental, concentrando esforços na prevenção e no cuidado aos usuários psiquiátricos e seus familiares, readequando a assistência e mantendo ativo os serviços destinados a essa população e demanda. Com a necessidade de readequação, a oficina terapêutica artesanato foi suspensa neste período de pandemia, contudo foi criado a experiência Saúde Mental: cuidado e proteção no domicilio, com o objetivo de dar continuidade a atividade terapêutica no domicilio, evitando assim aglomeração. A experiência foi realizada no período de 8 a 23 de julho de 2020, foram realizados nos domicilio de 20 pacientes psiquiátricos intensivos.
Os pacientes psiquiátricos intensivos em acompanhamento no CAPS possuem Plano Terapêutico Singular – PTS, a maioria desses pacientes frequentam as oficinas terapêuticas entre 3 e 4 dias na semana. Com a pandemia e a necessidade de isolamento social houve uma mudança na rotina dos pacientes, pois foram orientados a permanecerem em seus domicílios. A instituição percebeu a necessidade de continuar o acompanhamento terapêutico e encontrou na pintura de camisas a forma de manter a mente ocupada e estimulada, além de propiciar o fortalecimento de vínculo familiares, visto a necessidade do apoio familiar para o desenvolvimento da atividade. A experiência objetiva: • Reduzir os impactos negativos do isolamento social • Estimular a criatividade, a memória, atividade cognitiva e motora • Favorecer a autonomia de atividades diárias e com objetivo da melhoria da qualidade de vida e saúde • Contribuir para diminuição da ansiedade e estresse
Foram realizadas duas visitas por dia durante dez dias entre o período de 8 a 23 de julho (turno - manhã) em cada visita, Assistente Social, Psicóloga e Artesã, realizaram acolhimento e as orientações, quanto à realização das atividades e da necessidade de apoio familiar na conclusão da pintura das camisas. Cada paciente recebeu uma camisa (padronizada), dois pincéis e 5 frascos de tinta para tecido (não tóxica). Após a entrega dos produtos, o acompanhamento da experiência foi realizado por meio telefônico, no qual os familiares informavam se havia a efetiva realização das atividades e quando possível encaminhavam a documentação comprobatórias como vídeo, por exemplo. A equipe retornou a cada domicílio no ciclo de 2 dias para recolher o material remanescente, cada paciente era presenteado com a camisa customizada por ele mesmo com a ajuda da sua família, como forma de reconhecimento, estímulo e potencialidade.
A experiência foi realizada com 20 pacientes intensivos, em acompanhamento na oficina terapêutica-artesanato, sendo a amostra formada por sete homens e treze mulheres, entre os homens o diagnóstico que prevaleceu foi o F20.0, G40.0, F19.0, entre as mulheres o diagnóstico que prevaleceu foi o F 41.0 e F71.0. A experiência objetivou o fortalecimento familiar/institucional, a continuidade do acompanhamento, buscando evitar ou reduzir os impactos negativos do isolamento social estimulando por meio da criatividade e da pintura as práticas cognitiva e motora. As medidas de prevenção e controle de infecção foram implementadas pelos profissionais que atuaram na experiência, durante as visitas foram utilizados todos os EPIs necessários, para impedir ao máximo a transmissão de microrganismos durante qualquer assistência realizada. Todos os pacientes concluíram as atividades, observou-se dificuldades quanto ao apoio familiar apenas de um paciente, nenhum paciente apresentou sintomas gripais ou positivado de COVID-19, tampouco crise psicótica grave durante a realização das atividades.
A arte como terapia é uma prática complementar e indispensável no acompanhamento psicossocial, serve como instrumento de intervenção voltada ao enfrentamento e a diminuição do sofrimento psíquico, no período de pandemia e da necessidade de isolamento social, onde é comum o aumento do estresse, ansiedade e da depressão, e nos pacientes psiquiátricos é ainda mais ressaltado. A experiência Saúde Mental: cuidado e proteção no domicilio buscou a redução desses impactos negativos do isolamento social evidenciando o apoio familiar e o estimulo de atividades diárias, como a pintura, para o êxito, a inserção do CAPS no domicilio trouxe sobre tudo a confiança e a sensação apoio institucional, aos pacientes e as famílias, sentimentos de cooperação que é de grande valia, e é isso que se busca no cuidado.
Saúde Mental, Pandemia, Apoio Familiar, Pintura.