No CAPS I Casa Azul da cidade de Mafra/SC disponibilizam-se diversas oficinas e grupos terapêuticos conforme o Projeto Terapêutico da Unidade. A equipe multiprofissional responsável pela elaboração e organização das ações é composta por Pedagoga, especialista em Arteterapia e Psicopedagogia, Musicoterapeuta, Naturóloga, especialista em Saúde Mental e Dependência Química, Terapeuta Ocupacional e equipe de enfermagem, tendo suporte dos demais membros da equipe da instituição. Nestas atividades supracitadas, que antes da pandemia eram presenciais, visava-se oportunizar o desenvolvimento da resiliência bem como de outras habilidades socioemocionais necessárias para o cotidiano e à superação do sofrimento mental. Devido ao isolamento social provocado pelos riscos da COVID-19, foi necessário desenvolver ações suplementares a fim de ampliar as alternativas em saúde mental para o enfrentamento da pandemia. Dessa forma, uma cartilha composta de oficinas terapêuticas, que funcionam como ferramentas de autodesenvolvimento, foi criada, utilizando-se de temas específicos e didáticos para desenvolver coletivamente e individualmente. Esta cartilha transforma-se em kits que são entregues nas residências dos usuários do serviço de saúde mental (SM) passando a serem também mobilizadores sociais, ao passo que os profissionais do CAPS, que recebem a devolutiva não só dos usuários do serviço, mas também de familiares, dessa maneira podendo ampliar estratégias e aprimorar o projeto da instituição.
Sistematizar oficinas terapêuticas para o autodesenvolvimento em Saúde Mental, com a finalidade de manter o vínculo com os beneficiados dos serviços do CAPS, bem como continuar a construção das habilidades socioemocionais individuais e coletivas durante o período de pandemia.
O início da elaboração das oficinas terapêuticas se deu em março de 2020 quando constatada a impossibilidade de realizar as atividades em grupo no ambiente do CAPS. Tais atividades são elaboradas pela equipe interdisciplinar, que idealiza, confecciona e, ao fim, realiza a entrega para o usuário. O processo de idealização se dá a princípio de forma individual, cada profissional envolvido planeja uma oficina, com objetivos específicos e metodologia(as), e entrega esse material aos cuidados da pedagoga, que realiza a supervisão. Posteriormente, essas oficinas são confeccionadas pela equipe, para 89 usuários que eram atendidos anteriormente na modalidade de oficinas em grupo presencialmente. Importante pontuar também que o projeto terapêutico singular (PTS) de cada um deles é levado em consideração, assim como suas escolhas, capacidades cognitivas e socioemocionais, sendo assim, por vezes algumas atividades não são enviadas a alguns usuários, e por outras são elaboradas duas versões da mesma atividade, a fim de atender às necessidades individuais do maior número deles. Assim que o número total de oficinas é produzido, a entrega é realizada pela naturóloga com apoio do transporte de saúde municipal, esta etapa acontece de quinze em quinze dias para cada usuário. Durante todo o processo, todos os cuidados sanitários são tomados, a fim de evitar a disseminação do Covid-19.
A ação frente a pandemia desvelou uma cena da possibilidade de sistematizar um trabalho que atendesse a rotina de oficinas e grupos terapêuticos desenvolvidos pelo CAPS. A cartilha é composta de oficinas terapêuticas, contendo atividades como imaginação criativa, alongamentos, atividades musicais, contos de fada, colagem, alfabetização, jogos, como ferramentas de autodesenvolvimento. A cartilha segue com práticas didáticas divididas em temas, objetivos e metodologia. As oficinas terapêuticas em andamento estão sendo monitoradas pela equipe multiprofissional, através de ligações e devolutivas durante as entregas. O levantamento sobre a aceitação dos usuários em relação as atividades propostas foi realizado via telefone no mês de jullho de 2020. Constatou-se aproximadamente 92% de aceitação e 8% de não aceitação. Percebe-se que esse 8% é referente aos usuários mais graves/debilitados e/ou com pouco apoio familiar para realizar as atividades. Usuários estes que serão revistos os PTSs e também a viabilidade de atendimentos individuais com os devidos cuidados sanitários, a fim de evitar a disseminação do covid-19 e o não agravamento do estado mental. Uma pesquisa de aproveitamento e impacto na saúde mental dos usuários atendidos está em desenvolvimento e será implementada nos próximos meses. A ação gerou até a presente data o total de 1.160 oficinas terapêuticas entregues, reestruturando vínculos e gerando autonomia na aprendizagem socioemocional para o desenvolvimento em SM.
No espaço físico do CAPS I Casa Azul de Mafra profissionais da equipe multiprofissional reformularam seus modos de fazer oficinas direcionando o trabalho terapêutico para continuar a construção de habilidades socioemocionais individuais e coletivas. A lacuna deixada pela ausência do presencial gerou essa oportunidade do espaço criacional. A equipe se fortaleceu, planejou e executou o melhor do seu trabalho criativo atendendo a demanda dos usuários em saúde mental em tempos de pandemia. O resultado da experiência gerou uma cartilha que pode auxiliar a sustentabilidade das práticas terapêuticas em outros CAPS e/ou em outros serviços presentes na rede de saúde mental. Recomenda-se a continuidade da construção dessa cartilha enquanto perdurar a impossibilidade dos atendimentos em grupo e, caso se observe que a experiência da cartilha foi benéfica aos usuários, essa possa ser uma estratégia que perpasse os tempos de pandemia, expandindo assim, diferentes formas de atuação dentro do sistema de saúde.
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