O município de Porto Walter (PW) possui 11.982 hab, fica a 572 km da capital do estado do Acre e a 72 km de Cruzeiro do Sul, sede da regional do Juruá a qual o município faz parte. O acesso geográfico se dá por via fluvial ou aérea não possuindo acesso terrestre. A gestão municipal da saúde é responsável pela oferta de serviços da atenção primária em saúde. Apresenta hoje 03 ESF, 01 ESFR, 01 Academia da Saúde e profissionais da equipe multiprofissional. Conta ainda com 01 Unidade Mista de Gestão Estadual que é responsável pelo atendimento de urgências e emergências de baixa complexidade. Após a confirmação do primeiro caso positivo de Covid19 no estado em 17/03/2020, a Secretaria Municipal de Saúde de PW demonstrou grande preocupação com a entrada do vírus no referido município considerando a pequena estrutura de saúde disponível, bem como a dificuldade geográfica de transporte de pacientes para centros urbanos com mais estrutura de saúde. A Comissão Municipal de Prevenção e Combate ao Coronavírus entendeu que a instalação de barreiras sanitárias nos acessos ao município, tanto fluvial como aéreo, seria a estratégia ideal a ser adotada a fim de identificar precocemente possíveis sintomáticos chegando ao município, garantindo o seu isolamento domiciliar de forma eficaz. Tal estratégia possibilitaria ainda que as medidas necessárias de fato ocorressem para que o sistema de saúde municipal pudesse atender às demandas advindas desta nova doença.
OBJETIVOS (ATÉ 1000 CARACTERES): - Retardar a disseminação em massa do Coronavírus no município de Porto Walter/AC - Ganhar tempo para preparar o sistema de saúde municipal para atendimento a esta demanda (aquisição de materiais, capacitação da equipe no manejo clínico, organização de fluxos) - Identificar precocemente os sintomáticos - Monitorar os sintomáticos identificados - Promover o isolamento domiciliar eficaz.
METODOLOGIA (ATÉ 1500 CARACTERES): Foram implantadas barreiras sanitárias no dia 21/3/20 compostas por técnico de enfermagem, assistente social e profissional de segurança. Atuam em regime de escala de forma que a barreira funciona 24h. Uma equipe fica baseada no porto onde atracam as embarcações e essa mesma equipe atende o local de pouso dos aviões e outra equipe permanece na metade do rio. Após o início das atividades da barreira a população desenvolveu estratégias para “burlar” o monitoramento. Cada embarcação e avião que chegam ao município recebem abordagem pela equipe com a finalidade de registrar informações pessoais (identificação, cidade de origem), clínicas e epidemiológicas (sinais vitais, história pregressa, possíveis contatos sintomáticos) e de localização (endereço de moradia e local de trabalho). É feita uma listagem diária com esses dados e repassada para a vigilância sanitária e epidemiológica do município para continuidade do monitoramento, tanto por telefone como por visita domiciliar em frequência pré-estabelecida. No caso de suspeitos sintomáticos a equipe já encaminha o usuário para a unidade sentinela de COVID19. Durante a abordagem os passageiros e tripulantes recebem orientações sobre autocuidado e prevenção da COVID19. A equipe aplica ainda um termo de responsabilidade para os indivíduos que entram e saem da cidade que consistem em recomendações de condutas sobre o novo coronavírus, cumprimento da quarentena e possível acionamento judicial em caso
A implantação das barreiras sanitárias trouxe benefícios para a comunidade de PW. O 1º caso positivo de COVID19 no Acre foi em 17/3/2020, e na Regional do Juruá, Tarauacá/Envira a qual o município de PW faz parte, foi em 12/4/2020. Já no município de PW o 1º caso confirmado foi em 25/5/2020 com um intervalo de 69 dias do 1º caso registrado no Acre e 42 dias do 1º caso em Cruzeiro do Sul (sede da regional). Neste tempo foi possível executar planejamento estratégico juntamente com a equipe para alinharmos ações de organização para essa nova demanda no território como: organizar os fluxos para atendimento dos casos na APS, articulação e organização dos fluxos da média/alta complexidade em conjunto com a gestão estadual por meio do uso de transporte aeromédico para o município sede da regional de saúde, capacitação da equipe no manejo clínico na nova doença, aquisição de insumos, organização da unidade sentinela e contratação de novos profissionais. Com a continuidade do trabalho nas barreiras, mesmo após o surgimento do 1º caso, constatou-se uma periodicidade no surgimento de novos casos (intervalo de 20 dias para surgi o 3º caso). Isso nos mostra que um monitoramento efetivo dos primeiros casos e seus contatos diretos, com visitas periódicas da equipe de saúde, onde os mesmo obtiveram cura sem contaminar outro membro da comunidade influenciou diretamente de forma positiva no atendimento prestado pelo sistema de saúde local, preservando-o do colapso.
CONCLUSÃO (ATÉ 1250 CARACTERES): Um trabalho alinhado com o envolvimento de toda a gestão municipal e não só com a gestão da saúde, fluiu de uma forma que deu o tempo necessário para o planejamento do desconhecido ou algo nunca vivenciado. A adoção das barreiras sanitárias trouxe tempo suficiente para que a equipe sentasse e colocasse em pauta os passos necessários para enfrentar esse novo agravo à saúde, com responsabilidade e acima de tudo conhecimento técnico cientifico sobre essa doença e as problemáticas que iriam trazer no nosso território. Não só na questão saúde, mas em todas as questões que permeiam uma administração pública. O envolvimento maior do poder executivo municipal com os técnicos em saúde, financeiros, administrativos e demais membros importantes para esse momento nos garantiu um conforto para irmos para o enfrentamento ao COVID19 com ferramentas legais para esse processo. As barreiras sanitárias que existem até hoje em nosso território com toda essa abordagem e monitoramento do indivíduo que chega e sai no município nos fornece dados clínicos e epidemiológicos importantes para a tomada de decisão da gestão municipal.
Barreira Sanitária, Monitoramento, Isolamento, Planejamento Estratégico.