A emergência em saúde pública a nível mundial causada pela pandemia de Covid-19 levou à reestruturação de serviços de saúde nos diversos níveis de atenção. A necessidade do distanciamento social como principal forma de conter o avanço do vírus acelerou o aumento do uso de tecnologias em saúde (telessaúde). Antes do início da pandemia a Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SMS) havia publicado a Instrução Normativa No 05/SMS/GAB/2019, considerando o processo de incorporação de tecnologias em saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) e a crescente procura por serviços remotos de saúde, e também visando aprimorar as ferramentas de comunicação e facilitar o acesso à informação em saúde. A Instrução estabelece diretrizes e procedimentos para uso de smartphones como ferramenta de trabalho dos profissionais e equipes de saúde. Nesse sentido, considerando a chegada da pandemia e a consequente consolidação da telessaúde no cotidiano das equipes, devido à necessidade de distanciamento social, a equipe de farmácia sentiu a necessidade de oferecer serviços e atendimentos não presenciais aos seus usuários. Os serviços incluem: orientações sobre funcionamento dos serviços, pulverização de materiais informativos para educação em saúde e orientação farmacêutica, visando ampliar o acesso e diminuir a circulação de pessoas dentro do Centro de Saúde (CS).
Ampliar o acesso à atenção farmacêutica durante a pandemia do novo Coronavírus e aproximar os serviços farmacêuticos dos usuários de forma virtual, devido ao contexto e necessidade de distanciamento social. Fornecer um canal de comunicação à distância com usuários e profissionais da rede de acesso rápido e fácil e possibilitar o acompanhamento farmacoterapêutico à distância.
Foi criado um canal de comunicação entre os farmacêuticos e população através de um aplicativo de mensagens instantâneas. Após a disponibilização de smartphone e cartão SIM pela SMS e a configuração do aplicativo, o serviço foi divulgado através das redes sociais do CS e nos atendimentos na farmácia. O atendimento remoto acontece durante o horário de funcionamento e um farmacêutico é sempre responsável pela ferramenta. Toda demanda recebida é acolhida e, quando necessário, encaminhada. Conforme a necessidade, são fornecidas orientações sobre funcionamento e fluxos de atendimento da farmácia e do CS e/ou sobre medicamentos. Os usuários de medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) dispensados no CS foram cadastrados e alocados em listas de transmissão. As Equipes de Saúde da Família (ESF) de CSs atendidos pela farmácia foram cadastradas. Além disso, informativos sobre o serviço foram elaborados para serem enviados quando necessário. A ferramenta fornece aos farmacêuticos uma nova forma de comunicação com os indivíduos e as ESFs, facilitando a troca de informações, o esclarecimento de dúvidas, o acompanhamento farmacoterapêutico e a farmacovigilância. A princípio, dois modelos de acompanhamento farmacoterapêutico foram desenhados: um para usuários que utilizam medicamentos do CEAF e outro para os que estão em tratamento de sífilis. As dispensações são monitoradas e quando em atraso o usuário ou sua ESF é contatada.
Implantado há mais de dois meses, o serviço de telefarmácia apresentou resultados positivos. Foram recebidas no total 1344 mensagens, em média 24 mensagens por dia útil. A grande procura pelo atendimento, os feedbacks das pessoas e ESFs, a resolutividade dos problemas apresentados nos atendimentos foram indicadores utilizados para a avaliação da ferramenta. Dentre as principais demandas recebidas estão: dúvidas sobre o funcionamento da farmácia e do CS durante a pandemia, informações sobre medicamentos, dúvidas sobre a disponibilidade dos medicamentos e dúvidas em relação ao CEAF. A possibilidade de resolução dessas e outras demandas de forma remota resultou na diminuição da presença física de pessoas no CS, evitando aglomerações e exposição ao risco de contaminação, pois a facilidade para conferir se um medicamento é fornecido pela rede ou está disponível evita que se desloquem desnecessariamente. Uma parte dos usuários do CEAF e em tratamento de sífilis, ao serem contatados por dispensação em atraso, vão à farmácia para retirar seu medicamento, sugerindo que o acompanhamento remoto tem auxiliado na adesão à farmacoterapia.
A experiência da telefarmácia foi pioneira no município e vem mostrando resultados expressivos frente à pandemia, como a facilidade de acesso ao serviço farmacêutico de forma rápida e sem precisar sair de casa. Além disso, possibilitou a criação de modelos de acompanhamento farmacoterapêutico e serviu como auxílio na promoção da adesão aos tratamentos. Ao mesmo tempo que aproxima o farmacêutico do usuário e permite reduzir a presença de pessoas no serviço, o que é especialmente relevante em tempos de distanciamento, a ferramenta tem a limitação de caracterizar-se por certa impessoalidade, o que pode dificultar a criação de vínculo. Outro obstáculo é que nem todas pessoas têm acesso a tecnologia e algumas possuem dificuldade em utilizar. No entanto, essa prática tem tido boa adesão e retorno positivo, revelando grandes potencialidades para além do período da pandemia, demonstrando que as formas de cuidado devem se adaptar às necessidades do contexto, usuários e profissionais.
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