O processo de trabalho das Equipes Saúde da Família (eSF), em virtude da Pandemia do COVID-19, da escassez de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e do desconhecimento do novo pelos profissionais de saúde de Quixeré, durante os meses de março à julho do ano de 2020, proporcionou uma reflexão sobre os desafios para garantir acesso aos serviços de saúde à população, à proteção dos profissionais de saúde nesse “ novo normal” e a manutenção dos indicadores de saúde. Reinventar os processos de trabalho semanalmente, alinhar as informações constantemente e garantir os EPI´s foram ações usadas para que esses desafios fossem sendo superados um a um. Quixeré conta hoje com nove equipes Saúde da Família e no início da pandemia nossas equipes ficaram incompletas com perca de dois médicos e seis agentes comunitários de saúde todos afastados por serem do grupo de risco. Hoje estamos na nossa quarta fase e última de abertura dos serviços realizados nas Unidades Básicas de Saúde da Família. Possuímos um Centro de Enfrentamento ao COVID-19 implantado no mês de julho que nos proporcionou uma maior segurança para retomarmos todos os serviços nas UBS com exceção dos atendimentos odontológicos que se encontram ainda na primeira fase de retorno.
O objetivo desta experiência foi mostrar quais ações foram usadas frente aos desafios apresentados durante a pandemia de COVID-19 na Atenção Primária à Saúde (APS) de Quixeré e como uma APS fortalecida pode contribuir para garantir acesso aos serviços de saúde à população de forma protegida.
Tratou-se de uma investigação descritiva, tipo experiência, elaborada no contexto da Pandemia de COVID-19 de março à julho de 2020, no município de Quixeré-CE. Quixeré possuí uma população de 22.149 habitantes e possuí três eSF na sede e cinco eSF situadas na zona rural do município, nove Equipes de Saúde Bucal (eSB) e cinquenta e três agentes comunitário de saúde (ACS). Importante relatar que 95% dos profissionais da APS são efetivos, melhorando o vínculo entre equipe e comunidade. Os dados utilizados foram provenientes das ações previstas dentro do plano municipal de enfrentamento ao COVID-19 e outras ações que se somaram durante esse período na APS de Quixeré. Elas foram realizadas pelas equipes de atenção primária, coordenação de atenção primária e vigilância em saúde. Para fins didáticos, essa experiência será relatada em quadro fases distintas, divididas conforme a retomada dos serviços de saúde à população. A 1ª fase aconteceu de 9 de março até 15 de abril, a 2ª fase, de 15 de abril à 15 de maio, a 3ª fase, de 15 de maio à 31 de junho e a 4ª fase, de 1ª de julho até os dias atuais.
Os resultados apresentados na 1ª fase contemplam as capacitações da coordenação da APS com os profissionais das eSF sobre o uso correto de EPI´s, o trabalho do ACS, protocolo de manejo clínico do coronavírus na APS e o fluxo de encaminhamentos. Nas UBS iniciamos com o atendimento aos suspeitos de COVID-19, liberação de medicamentos para pacientes crônicos entregues pelos ACS em domicilio, realização da vacina de influenza para idosos em casa e a manutenção dos pré-natais, de pequenas urgências clínicas e odontológicas e dos procedimentos. Iniciou atendimento noturno no distrito de Lagoinha. Na 2ª fase realizamos o rodízio de eSF para contenção de EPI´s e uma menor exposição dos profissionais. Foram entregues 25 mil máscaras para os usuários em casa, realizado exercícios de respiração para os profissionais de saúde e atendimento com o psicólogo, desinfecção das UBS, acesso diferente para usuários com comorbidades, vacinação das crianças e gestantes, visitas puerperais e entrega de resultados positivos de COVID -19 em casa. Na 3ª fase o rodízio de UBS terminou, os EPI´s eram suficientes, iniciamos as testagens para os contatos de casos positivos, profissionais de saúde e os acamados, acompanhamos os hipertensos e diabéticos nas escolas e nas casas e a coleta para prevenção ginecológica iniciou. Na 4ª fase os serviços das UBS voltaram a funcionar com hora marcada com exceção da odontologia. Implantado o Centro de COVID-19 e a testagem ampla de todos os suspeitos para COVID-19.
Concluímos nesta experiência que a APS fortalecida ajudou a superar desafios encontrados durante a pandemia. Todas essas ações garantiram uma retomada com segurança dos serviços nas UBS, além do monitoramento de casos suspeitos e confirmados de COVID-19 nas áreas pelas eSF e ACS diariamente, mantendo um fluxo de comunicação de todos os pontos de atenção no município. O Centro de COVID-19 proporcionou o esvaziamento de pacientes suspeitos ou confirmados de COVID-19 das UBS, garantindo um acompanhamento completo em um único lugar e a ampla testagem para todos. Os indicadores do Previne Brasil continuam sendo monitorados e no primeiro quadrimestre as eSF atingiram todos os indicadores relacionados a gestação e prevenção ginecológica, além de obter 85% dos cadastros válidos e implantação de mais uma eSF informatizada. Além de todos esses desafios superados, ainda temos muitos pela frente como: testagem de toda a nossa população, incorporar nas práticas diárias a lavagem frequente das mãos e o uso correto da máscara, os atendimentos em educação em saúde, a melhoria da saúde mental de funcionários e usuários, o atendimento com a retomada das aulas nas escolas e a incorporação das teleconsultas pelas eSF.
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