A Pandemia causada pela COVID-19 foi confirmada no dia 11 de março de 2020, e trata-se de uma doença infecciosa respiratória causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), de alta transmissibilidade, que pode variar de uma infecção assintomática a uma necessidade de internação hospitalar. Em 26 de março foi confirmado o primeiro caso no Brasil e em 20 de abril no município de Murici, Alagoas, fazendo com que fossem adicionadas estratégias assistenciais em conjunto com as preventivas. Uma delas é o Programa Cuidar Melhor que visa o acompanhamento por uma equipe multiprofissional aos pacientes e familiares pós-alta hospitalar por COVID-19, acreditando que o processo de internação hospitalar pode resultar em algumas alterações da funcionalidade, tais como: fraqueza muscular e respiratória, fadiga, alterações de sensibilidade e alterações emocionais, esse acolhimento inicial torna-se essencial. O Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF AB) e os Agentes Comunitários de Saúde iniciaram esse acolhimento em junho, realizando avaliações em domicílio e trocas com as equipes de Saúde. Por se tratar de uma equipe multiprofissional e por atuar no território de abrangência das equipes de Saúde da Família apoiando a coordenação do cuidado, ela oferece todos os subsídios necessários para um cuidado qualificado e humanizado, no conforto e segurança do domicílio, e em consonância com as recomendações da equipe de Saúde da Família responsável.
Relatar a experiência do Programa Cuidar Melhor na cidade de Murici, Alagoas Descrever a prática do NASB AB no cuidado com pacientes pós-alta hospitalar por complicações decorrentes da infecção por COVID-19.
Estudo descritivo, por meio de relato de experiência desenvolvido a partir da intervenção dos profissionais de Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Psicologia do NASF AB com os pacientes pós-alta hospitalar por complicações decorrentes da COVID-19. As intervenções tiveram início em junho deste ano e se desdobram até então, sendo inserido no Programa Cuidar Melhor, o paciente que teve alta hospitalar, através de encaminhamento ou por demanda espontânea. Inicialmente são realizados testes e avaliações padronizadas e, com os resultados, são definidas as metas e objetivos do tratamento/reabilitação. São realizados desde orientações, treino das atividades da vida diária, reabilitação respiratória e suporte emocional, bem como outros componentes do desempenho ocupacional. A fim de otimizar a funcionalidade no pós-alta hospitalar em decorrência das complicações causadas pela COVID-19, bem como oferecer conforto durante as intervenções, as mesmas são realizadas em domicílio e tendo cada sessão a duração de até 50 minutos. Fazem parte ainda do suporte ofertado, a continuidade das medidas sanitárias e de distanciamento presentes nos documentos dos órgãos públicos e responsáveis pelo cuidado ampliado em saúde. A orientação com os familiares também é priorizada durante as intervenções da equipe do Programa. Cabe destacar que a articulação com a equipe de Saúde da Família é realizada durante todo o processo de reabilitação/tratamento, garantindo a integralidade da assistência prestada.
No período de 23 de junho a 23 de julho foram acolhidos 10 pacientes que receberam alta hospitalar por COVID-19 na cidade de Murici/AL, 3 homens e 7 mulheres, com idades superiores a 50 anos. Foi observado que o processo de internação apresentou consequências diferentes para cada contexto familiar e com isso necessitou de encaminhamentos individualizados. No momento inicial onde relatam o momento vivenciado, os medos do futuro e da morte foram os mais relatados, 4 casos foram encaminhados para um tratamento terapêutico com a psicologia, um caso específico o paciente solicitou uma consulta com a nutricionista visando uma mudança de hábitos alimentares e uma busca por uma vida mais saudável. Em relação a independência funcional 3 casos apresentaram alteração, 2 casos uma assistência moderada e 1 caso uma assistência total nas atividades de vida diária, o que necessitou de acompanhamento da Terapia Ocupacional para orientações e treino das atividades de vida diária e organização de rotina. Um paciente apresentou risco alto de quedas e alteração respiratória quando aplicado o teste para instabilidade postural sendo encaminhado para realizar Fisioterapia respiratória e motora. Ao final da avaliação todos os pacientes e familiares relataram uma sensação de acolhimento com a visita, tendo em vista que mesmo após finalização do tratamento médico hospitalar as incertezas e medos ainda permanecem e as informações cientificas atualizadas precisam ser compartilhadas.
O programa Cuidar Melhor se configura como importante dispositivo de cuidado no âmbito da Atenção Primaria em Saúde, bem como do Núcleo Ampliado de Saúde da Família. O mesmo, trás inovações e possibilidades para o cuidado domiciliar aos pacientes que tiveram pós-alta hospitalar por Covid-19. A estruturação das intervenções se deu a partir da necessidade apresentada pelos sujeitos moradores da cidade e das evidências apresentadas na literatura nacional e internacional. É ávido falar que esta experiência trás inúmeros benefícios à saúde funcional do paciente que passa pela intervenção, bem como para a realização das atividades de vida diária e laborais de forma autônoma e independente. Ter a Atenção primária a frente do Programa Cuidar Melhor, garante que o cuidado, se necessário, seja compartilhado com outros pontos da rede de atenção à saúde presentes no território, sendo o NASF AB uma importante estratégia de gerenciamento, qualificação da assistência e produção do cuidado.
Atenção Primária à Saúde (D011320), Reabilitação (D012046), Infecções por coronavírus (D018352), Visita Domiciliar (D006792).