Em dezembro de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia em Wuhan, na China. Foi identificada uma nova cepa de coronavírus que ainda não existentes em seres humanos. Em 30 de Janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou estado de Emergência em Saúde Pública pelo novo Coronavírus (Sars-Cov-2), após reconhecimento da pandemia da Covid-19, causando impacto sanitário, econômico e social em praticamente todos os países do mundo (OPAS, 2020). O Coronavírus chegou ao Brasil oficialmente em fevereiro de 2020 e 14 de março foi notificado o primeiro caso no Estado do Acre. Desde então, o número de casos novos cresceu exponencialmente e se estabilizaram em níveis altos, criando um grande platô na curva de casos. O boletim de 15 de julho registra 16.479 casos confirmados no Acre, sendo 8.113 em Rio Branco. Os dados oficiais se baseiam em casos confirmados pelos testes disponíveis (RT-PCR, sorologia e o teste rápido). Pela pequena capacidade de testagem do Brasil, o que não é diferente nos Estados e Municípios, a subnotificação de casos é um fato, sendo importante quantificar sua magnitude para se ter uma estimativa que exprima com mais fidedignidade a dimensão da pandemia em determinada localidade. A Prefeitura de Rio Branco, através da Secretaria Municipal de Saúde, realizou, no período de 03 a 14 de julho de 2020, um estudo epidemiológico com testes rápidos para identificação de anticorpos contra o SARS-CoV-2 na população.
O Inquérito Soro-epidemiológico para SARS-CoV-2, realizado nos domicílios de Rio Branco – Acre tem como objetivos: - Conhecer o número de infectados pelo SARS-CoV-2 e sua distribuição para que possa propor medidas relacionadas a prevenção, diagnóstico da infecção e planejamento de ações de vigilância e assistência em saúde. - Estimar a porcentagem de pessoas com anticorpos para o vírus SARS-Cov2 e assim possibilitar o monitoramento dos casos positivos e sintomáticos dos territórios em nível local. - Avaliar a velocidade da expansão da infecção no município, conhecendo a realidade do cenário epidemiológico local, aprimorar as estimativas dos casos e aprofundar a compreensão da COVID-19.
O Inquérito Soro-epidemiológico realizado no município de Rio Branco, foi desenvolvido no período de 03 a 14 de julho de 2020, nos bairros das 10 regionais do Plano Diretor da Prefeitura de Rio Branco - Acre. Foram realizados 1007 testes rápidos de COVID-19. A metodologia de seleção dos domicílios através de sorteio prévio nos 124 bairros distribuídos nas regionais da Baixada da Sobral, Belo Jardim, Cadeia Velha, Calafate, Estação Experimental, Floresta, São Francisco, Seis de Agosto, Tancredo Neves e Vila Acre, no total de 139.302 domicílios. Foram utilizados mapas (croquis) com a delimitação dos bairros utilizados pelos Agentes de Controle de Endemias. Foi considerado a amostra de domicílios proporcional à população do bairro. As coletas foram realizadas nos domicílios selecionados, após sorteio de um residente presente no momento da visita. Durante a realização do teste, o usuário sorteado respondeu um instrumento com variáveis relevantes para análise. Os dados eram enviados on line através do Google Forms no ato da entrevista. Além do resultado do Teste Rápido, o formulário contou com variáveis demográficas, sócio-econômicas, ligadas a ocorrência e exposição ao SARS-CoV-2, e percepção sobre o distanciamento social. O teste utilizado foi da marca Wondfo®, distribuído pelo Ministério da Saúde. O teste possui uma sensibilidade de 85% quando utilizado depois do décimo dia e tem a especificidade de 99%.
Dos 1007 testes de Covid-19 previstos, foram validados 959, sendo excluídos 48 testes e questionários por inconsistências, representando 4,8% de perdas. Deste total, foram encontrados 83 testes positivos. Entre estes uma pequena parcela de pessoas realizou o teste RT-PCR (3,1% - 30) sendo que destes, 13 foram positivos (1,4%). Deste total, 67% (643) é do sexo feminino, com idade entre 21 a 40 anos (38,5% - 369), sendo a média geral de 43,9 anos. A raça predominante foi a parda, com 73,4% (704) e a faixa de renda com maior número de pessoas foi a de até 1 salário mínimo (37,7% - 362). Sendo a maior ocupação de trabalhadoras no próprio domicílio 23,5% (225) e com profissão específica com 21,8% (209). Em relação à ocorrência de sintomas 29,1% (279) já tiveram e 13,6% estavam com sintomas. Os mais frequentes foram cefaléia, febre, fraqueza e tosse. 40,3% manifestaram algum fator de risco, sendo os mais frequentes a Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus. Com relação ao uso de medicações e chás para tratamento e prevenção da doença, 20,1% (193) utilizou medicação, 11,4% fez tratamento para a doença (109) e 40,3% (386) utilizou chás. O distanciamento social e sua realização na prática cotidiana, foi verificado com 96,2% (923), sendo 91% das respostas com notas acima de 7 e nota 10 (73,5% - 705). E 91,4% (877) afirmaram fazer o distanciamento social. As regionais mais afetadas são Tancredo Neves, Floresta e Baixada todas acima de 12%. E na Vila Acre, nenhum caso positivo.
Com a realização do Inquérito observou-se uma soroprevalência de 8,7%. Considerando a última estimativa do IBGE de 407.319 habitantes em Rio Branco, esta soroprevalência representa um montante de casos de 35.436 casos. Essa projeção aponta para a ocorrência de um número 4,37 vezes maior de casos do que aqueles confirmados para o dia, conforme o Boletim Epidemiológico do Estado. Estes dados ampliam a capacidade de análise epidemiológica e consequente identificação a partir dos territórios mais afetados a ocorrência de síndromes gripais e monitoramento direto dos casos positivos existentes e assim conter a cadeia de transmissão do vírus. Um dos aspectos diretamente ligados à experiência de contato com a Covid-19 foi a utilização de terapias para prevenção e tratamento, sendo maior em quem utilizou em relação aos que não utilizaram evidenciando que além de não oferecer proteção, fez com que pessoas se expusessem mais ao contágio e que não é possível comprovar eficácia de medida terapêutica preventiva. O Inquérito demonstrou a importância da manutenção das medidas de distanciamento como controle da transmissão e evidenciou a importância de mantermos os controles de contágios como a única medida segura para evitar a contaminação.
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