A integração das ações da Vigilância em Saúde (VS) e Atenção Primária em Saúde (APS) sempre foi um dos grandes desafios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a ausência desta integração provoca problemas tanto na identificação dos fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, quanto na notificação e no controle das doenças e agravos. A atual pandemia da COVID-19 desencadeada pela disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), de certo modo, impulsionou a urgência no estreitamento da relação entre a VS e APS, tendo em vista a necessidade de realizar planejamento, busca ativa, identificação e notificação dos casos, monitoramento e análise conjunta, além de ações de contingenciamento, controle, tratamento e combate da doença. Isto revela, a importância do diálogo e da integração entre as equipes de Vigilância e Saúde e estratégias como a Saúde da Família, Núcleo Ampliado de Saúde da Família e outros, não só no momento atual de urgência em saúde pública internacional, como também no cotidiano de trabalho destas equipes, afim de proporcionar melhorias nas condições de vida e de saúde da população. Considerando que em 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde – OMS decretou a disseminação do novo Coronavírus como uma pandemia mundial, a secretaria de saúde do citado município formou em 12 de março, o Grupo de trabalho (GT) para planejar e executar, juntamente com as equipes envolvidas, VE e APS, o plano de contingenciamento e enfrentamento da Covid-19.
Relatar a experiência de articulação e integração entre Vigilância em Saúde e Atenção Primária à Saúde do município de Murici, Alagoas, no enfrentamento à COVID-19.
Relato da experiência da integração entre equipe técnica da VS, Coordenação da APS, equipes de Saúde da Família e profissionais do NASF. Teve início em março de 2020 e se desenvolve até a atualidade, em virtude da necessidade de se realizar trabalho intensificado de identificação, monitoramento, tratamento e controle da COVID-19 no município de Murici, Alagoas. Formado o GT, foram criados espaços de diálogo entre as equipes de VS e APS a fim de promover o alinhamento e a articulação para esse “novo” formato no processo de trabalho. Surgidos os primeiros casos, foi realizado planejamento conjunto das ações, identificação da realidade, levantamentos epidemiológicos, o que permitiu estabelecer análise da situação de risco e diagnóstico situacional em meio à pandemia. Para estabelecimento de fluxo de assistência e monitoramento dos casos foi construído instrumento de identificação e acompanhamento, incluindo o telemonitoramento ações de prevenção e controle da doença nos domicílios, espaços públicos e locais de grande circulação de pessoas busca ativa e identificação dos casos suspeitos e seus contatos domiciliares no território, por meio de bloqueio epidemiológico notificação nos sistemas de informação implantação de barreiras sanitárias acompanhamento dos moradores que chegaram recentemente de outros estados, para cumprimento do isolamento social e medidas de proteção e estratégias de comunicação e informação em saúde.
Com a integração entre VS e APS no enfrentamento à COVID-19 foi possível observar maior efetividade no desenvolvimento de ações programáticas, coletivas e vigilância, bem como identificação e notificação dos casos suspeitos e confirmados. Percebe-se maior envolvimento dos profissionais no trabalho de monitoramento, principalmente por parte dos Agentes comunitários de saúde e profissionais do NASF. Fichas de monitoramento e acompanhamento possibilitaram estreitamento do uso das informações pelas duas áreas, assim, o trabalho sai de um processo de distanciamento, para um processo contínuo planejamento-execução. Diálogos produzidos a partir das interlocuções demonstram a concretude do trabalho coletivo. Corroborando com documentos que servem de guia para essa articulação, a priorização dada às ressonâncias provocadas pela pandemia tem demonstrados efeitos positivos para a comunidade, como a maior procura por serviços de saúde, seguimento das orientações oriundas dos profissionais, dentre outros. Respeitados os movimentos e o tempo de organização, percebemos pouca resistência na adesão ao trabalho remoto, tendo como exemplo, o telemonitoramento, onde, antes da pandemia, tinha-se dificuldade para a implantação. Además, é garantida juntamente com a assessoria de comunicação da prefeitura municipal, a informação sobre a situação epidemiológica do município, diariamente, inclusive regionalizando os casos confirmados, sejam eles da área urbana ou rural.
Considerando o já relatado arranjo da prática integrada entre APS e VS durante o enfrentamento à Covid-19, percebemos, em Murici, Alagoas, uma ampliação do escopo de ações territoriais. Os princípios do Sistema Único de Saúde tem sido as balizes onde a singularidade do sujeito, componente de cada equipe, é guiada e amplamente discutida. A construção do cuidado por meio da aproximação entre as duas equipes favorece a qualificação da assistência em saúde, pois a construção do caso e da atenção prestada parte do conjunto de olhares, levantamento de dados e análise descritiva, assim, direcionando a melhor oferta. O processo dialógico tornou-se perceptível no momento em que as equipes contribuíram com este cenário e vice-versa. Assim, passaram a produzir cuidado centrado nas necessidades dos usuários e tendo como premissa as orientações e protocolos estabelecidos por órgãos como a Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde, além dos Decretos Estaduais e Municipais. O arranjo organizacional desenhado e contido na agenda da gestão, culminou com um trabalho que evidencia a produção do cuidado a partir das necessidades dos sujeitos, do perfil epidemiológico e da vulnerabilidade que está posta nos diversos cenários do território.
Atenção primária á saúde (D011320), Vigilância em Saúde pública (D062486), Infecções por Coronavírus (D018352).