Belo Horizonte possui população estimada em 2.512.070 pessoas (IBGE,2019). O município conta atualmente com 208 Instituições de Longa Permanência (ILPI) entre públicas e privadas com cerca de 3.700 idosos, a maioria com algum grau de dependência para as atividades básicas diárias e fragilidades clínicas funcionais. Estudos demonstram altas taxas de transmissão e letalidade da Covid-19 na população idosa em todo o mundo e sobretudo os institucionalizados. Considerando os princípios Universalidade e Equidade do SUS, definiu-se além das 28 instituições públicas e filantrópicas vinculadas à Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC), a inclusão de mais 65 ILPI privadas. Todas as ILPIs recebem diariamente acompanhamento sistemático e vigilância ativa à saúde pelas equipes de saúde da família e médicos geriatras do Centro de Referência do Idoso do HC-UFMG (Centro Mais Vida (CMV)/Serviço de Geriatria), parceiros do projeto. Diante deste contexto e considerando a necessidade de garantir isolamento e cuidado para os idosos com sintomas respiratórios, o município, de forma pioneira, institui a unidade de acolhimento intersetorial (SMSA e SMASAC) e provisória para os idosos em instituição que não possuem condições de isolamento adequadas. Trata-se da implantação da Unidade de Acolhimento Provisório de Idosos (UAPI) com objetivo de acolher quadros respiratórios leves, para o isolamento e cuidados em saúde adequados durante o período de contágio.
Promover proteção e cuidado em saúde aos idosos residentes das ILPIs, frente à pandemia de COVID-19 implantar serviço de acolhimento emergencial e provisório para idosos suspeitos de Covid-19 evitar a propagação do vírus nas unidades de acolhimento para idosos diminuir a morbimortalidade entre a população mais vulnerável realizar o acompanhamento e matriciamento diário das ILP através das equipes de saúde da família e geriatras.
A articulação intersetorial teve seu início em março de 2020, contemplando 93 ILPI da cidade de Belo Horizonte, totalizando 1900 idosos institucionalizados (instituições públicas e filantrópicas, incluindo as privadas definidas pela vigilância sanitária como precárias, tanto do ponto de vista da qualidade assistencial quanto de infraestrutura). Foi realizado diagnóstico situacional, síntese diagnóstica clínico-funcionais de cada idoso e a adesão das ILPI. Foi realizada web conferência com os envolvidos além de reuniões periódicas a distância com os coordenadores e equipes das ILPI para o fortalecimento dos vínculos e treinamento quanto ao uso das ferramentas para o telemonitoramento diário de sintomáticos respiratórios, preenchimento do CHAT BOT, acesso a vídeos aulas, orientação quanto a medidas de prevenção, controle e critérios de encaminhamentos para a UAPI. O telemonitoramento iniciou em maio de 2020 e a implantação da UAPI em junho de 2020. Durante o contato é possível identificar o sintomático respiratório e de forma precoce realizar as condutas adequadas. Quando a ILPI possui condições de isolamento, é disparado o processo para a coleta de RT-PCR sendo mantida a vigilância ativa. Onde não há infraestrutura adequada para o cuidado e isolamento, o idoso é transferido para a UAPI, onde é testado e acolhido, permanecendo até o término dos sintomas. A UAPI possui equipe multiprofissional e capacidade de acolher 30 idosos, com previsão de ampliação para até 56 leitos
Até o momento 46 ILPI (49%) aderiram e cadastraram no projeto. A VISA já possuía o diagnóstico situacional de 100% das instituições do município. Os centros de saúde realizam o contato diário com todas as ILPI do seu território e somente 25 instituições iniciaram o preenchimento diário do CHAT BOT com as informações dos sintomáticos respiratórios para o CMV. Até o momento, foram acolhidos na UAPI 53 idosos, destes 26 (49%) receberam alta, 09 (17%) apresentaram piora do quadro e foram transferidos para o hospital, 22 (41,5%) testaram positivo para COVID-19, tendo 06 idosos, aguardando resultado de exame.
As altas taxas de transmissibilidade nas ILPI, é superior a 60%, após a introdução do vírus, com uma taxa de mortalidade de 26% (Arons, 2020 Gandhi, 2020), demonstrando a importancia de acolher o idoso suspeito de Covid-19 em local adequando para o isolamento, diminuindo o risco de contaminações e mortes. O cuidado realizado em ILPI deve ser considerado prioridade de saúde pública e assistência social (Viana, 2015), e a integração de ambas as políticas públicas em Belo Horizonte em um cenário de pandemia é essencial para a melhoria da qualidade de vida, diminuição da morbimortalidade e garantia dos direitos dos idosos institucionalizados. O grande desafio é de impedir a entrada do Covid-19 nas ILPI e conseguir em tempo oportuno garantir o cuidado adequado utilizando a rede sócio assistencial em prol da vida. Somente com a articulação intersetorial (diversas políticas públicas, universidades e sociedade civil, dentre outros), será possível vencermos esta pandemia que assola a humanidade.
Idosos Covid-19 Instituição de Longa Permanência Intersetorial Atenção Primária à Saúde.