O acompanhamento dos casos positivos para COVID-19 é um momento chave no controle da pandemia, quando se deve oferecer à pessoa os cuidados necessários para garantir seu isolamento, além de identificar contatos próximos e também isolá-los e acompanhá-los dentro de um determinado espaço de tempo. Oferecer as informações adequadas para um bom isolamento, acompanhamento médico quando necessário e atestado médico são ações fundamentais. Para além disso, a vigilância para o cumprimento adequado do isolamento do caso índice e de seus contatos também é necessária, como passo central no controle da disseminação do vírus SARS-CoV-2 na comunidade. Além disso, a identificação da circulação da pessoa em sua comunidade e de possíveis contatos indiretos também se faz necessária e só é possível quando se tem articulação com a Equipe de Saúde da Família (ESF), em especial na figura do Agente Comunitário de Saúde, que são quem de fato conhecem a dinâmica da vida de sua população adscrita. Levar acompanhamento dos casos para o nível de microárea se faz necessário como forma de potencializar o cuidado, o acolhimento, fortalecer o vínculo com a ESF, identificar necessidades e dificuldades específicas caso-a-caso e, por fim, minimizar os impactos da pandemia no município. O primeiro caso de COVID-19 do município de Três Lagoas foi em primeiro de abril, chega ao fim do mês de julho com 600 casos, sendo quase 200 ativos, demandando um acompanhamento necessariamente descentralizado para as ESF.
- Descrever o processo de acompanhamento dos casos positivos para COVID-19 no município de Três Lagoas - Evidenciar o momento em que o acompanhamento dos casos tornou-se crítico - Descrever como se deu o processo de descentralização das ações para a Atenção Primária à Saúde, seja em termos estruturais, seja no estabelecimento de contatos e vínculos - Descrever as dificuldades encontradas pelas Equipes de Saúde da Família nesse processo - Descrever a reorganização do processo de trabalho do setor de Vigilância Epidemiológica para garantir o bom acompanhamento dos casos e como se deu seu vínculo com as Equipes de Saúde da Família - Identificar os atores centrais no processo de descentralização - Comparar em termos de qualidade de acompanhamento e identificação de contatos os momentos antes e após a descentralização.
- Estudo descritivo observacional realizado no município de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, no período de março a julho/2020 - O estudo se baseia na coleta de dados de pacientes, dados estes presentes no setor de Vigilância Epidemiológica do município, local que centraliza as informações sobre os casos de COVID-19 - Avaliação de dados pré descentralização e após a descentralização, em especial com o advento de uma planilha virtual, interna ao município, criada com finalidade de acompanhamento conjunto dos casos entre a Vigilância Epidemiológica e as Equipes de Saúde da Família - Avaliação de relatórios de reuniões e protocolos internos realizados no momento da tomada de decisão pela descentralização - Avaliação de relatos livres dos tutores das Equipes de Saúde da Família, que trarão as dificuldades e potencialidades dentro do processo de descentralização das ações de acompanhamento.
O processo de descentralização do acompanhamento foi iniciado no mês de Maio, desde quando a Vigilância Epidemiológica (VIGEP) identifica o caso positivo e repassa às ESF a responsabilidade do acompanhamento, via telefone e visitas domiciliares. As ESF apresentaram alguma dificuldade inicial pela falta de conhecimento sobre alguns protocolos de testagens, tempo de atestado, medidas para isolamento em domicílio, entre outras, além da difícil comunicação entre as equipes e a VIGEP, muito em função de sistema de informações lento e pouco produtivo. Houve, inicialmente, resistência por parte dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) em participar do acompanhamento dos casos de suas microáreas. As ESF foram, então, divididas entre 8 tutores, responsáveis pela orientação mais próxima de suas ações, tanto para organizar o fluxo de informações, melhorar a comunicação com a VIGEP, trabalhar a sensibilização das equipes para reorganização do processo de trabalho. Observou-se, em pouco tempo, que os pacientes tinham um cuidado mais organizado e direcionado, com necessidades específicas (como cestas básicas, religação de água, atendimentos em saúde) atendidas, mais contatos de casos confirmados eram identificados e isolados, aumentou-se o vínculo entre equipes e pacientes, além de otimizar a comunicação entre equipes e o trabalho da VIGEP. Os ACS passaram, ainda, a identificar na comunidade casos de síndrome gripal, melhorando a vigilância, isolamento precoce e diagnósticos.
O processo de descentralização potencializou o acompanhamento dos pacientes positivos para COVID-19 no município, bem como de seus contatos, promovendo um isolamento mais adequado e seguro, com mais informações aos pacientes. Além disso, renovou o vínculo entre ESF e comunidade, de certa forma perdido com a redução das atividades em início de pandemia os pacientes voltaram a ser cuidados no nível de atenção que de fato os conhece e os acompanha. A vigilância em saúde é um trabalho que não se faz individualmente, mas em equipe, e decerto é melhor realizada em nível local, comunitário, sendo mais uma das ações intrínsecas à porta de entrada do sistema de saúde, a Atenção Primária, que é o nível de cuidado individual, familiar e comunitário que coordena as ações em saúde e que conhece as peculiaridades das comunidades, podendo estabelecer ações focadas e direcionadas ao cerne dos problemas que nelas se apresentam.
Vigilância em Saúde Pública, Atenção Primária à Saúde, Infecções por Coronavírus