A pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) exigiu uma série de mudanças na realidade vivenciada na saúde pública do município de Rurópolis – Pará, não obstante ao que foi observado em todo o país. Fortuitamente, o município de maneira precoce adotou uma série de medidas como a criação do Comitê de Operações Emergenciais – COE, ligado à Secretaria de Saúde e ao setor de Vigilância em Saúde, visando o planejamento de todas as ações e serviços para o enfrentamento da doença no território. Portanto, houve a necessidade de realocação e reorganização da atenção em saúde voltada aos pacientes de COVID-19, sem precisar necessariamente interferir no fluxograma já existente. Para isso, foi criada uma rede de atenção paralela exclusiva para pacientes com sinais e sintomas sugestivos da doença. Tal estratégia obteve êxito pois contribuiu consideravelmente para a facilidade de acesso e vinculação do paciente aos serviços, oportunizou um cuidado integral e, desse modo, otimizou seu itinerário terapêutico, reduzindo a contaminação cruzada entre os usuários do Sistema Único de Saúde de Rurópolis, Pará.
A criação da rede de atenção voltada aos pacientes de COVID-19 teve como principal objetivo conter a disseminação da doença no território e nos serviços de saúde, além de facilitar o acesso dos pacientes suspeitos ou confirmados de COVID-19 aos serviços de saúde, otimizar espaços e garantir a biossegurança dos profissionais e pacientes envolvidos nessa rede de atenção através da adoção de medidas como desinfecção constante de equipamentos e ambientes, a adoção adequada de EPI’s, entre outros, além de promover a integralidade do atendimento aos pacientes de COVID-19 com a adoção de atendimento específico e organizado. Objetivou também garantir a manutenção da rotina nas unidades de saúde já existentes evitando mudanças drásticas no acompanhamento dos pacientes do SUS, protegendo esses usuários que precisavam dos serviços ofertados.
As ações de contingência do avanço da COVID-19 iniciaram de forma precoce e de caráter preventivo. Foram criados o COE, formado por uma equipe multiprofissional, e a ferramenta Disk Vigilância, um canal de comunicação que oportunizou o contato dessa equipe com a população sem que eles precisassem sair de casa. As principais ações preventivas e educativas realizadas foram barreiras sanitárias, fiscalizações, reuniões com a comunidade e entidades representativas, palestras, rastreamento e monitoramento do deslocamento de pessoas entre o território e localidades que já possuíam casos confirmados. Com o surgimento dos primeiros pacientes suspeitos foi criado um serviço ambulatorial de caráter fixo e móvel que ofertava consultas, exames e assistência farmacêutica, além de uma ala de atendimento hospitalar exclusivo com realização de radiografias, exames laboratoriais e eletrocardiogramas. Com o surgimento e o aumento no número de casos houve a necessidade de aperfeiçoamento e expansão da rede de atenção, surgiu então, o Centro Integrado de Prevenção e Combate à COVID-19 – CIPCOVID, situado tanto na zona urbana quanto rural, onde concentrou-se todo o atendimento inicial e acolhimento dos pacientes suspeitos e confirmados. Este centro oferta atendimentos de enfermagem, médico, psicológico, nutricional, assistência farmacêutica, exames diagnósticos e serviço de transporte exclusivo.
Observou-se com a implantação de tais medidas relacionadas a rede de atenção uma acentuada melhora em todo o processo de cuidado em saúde. As orientações repassadas precocemente possibilitaram a chegada tardia da doença em relação aos municípios vizinhos. A criação dessa rede assegurou atendimento aos pacientes nos níveis de baixa e média complexidade. A assistência em saúde prestada a população-alvo se deu de maneira integral e garantiu a cobertura de mais de 95% de todos os pacientes com COVID-19 na zona urbana. Com o CIPCOVID Rural na rodovia Transamazônica, houve uma expansão da rede paralela que proporcionou cobertura e disponibilização de serviços a uma das maiores áreas e populações rurais do município. Atualmente o município já atendeu pouco mais de 2.300 pacientes, dentre esses 67% da zona urbana e 33% rural. Vale ressaltar, 99% foram acompanhados diariamente de maneira remota, 72% foram leves, 28% moderados e precisaram de assistência presencial, 3% necessitaram de hospitalização, e apenas 0,88% evoluíram com forma grave e foram referenciados para tratamento de alta complexidade. Devido aos esforços criados não houve relatos de contaminação proveniente dos serviços públicos e dos 41 profissionais confirmados, menos de 5% tiveram contaminação no atendimento direto aos pacientes. O município apresenta uma das menores prevalências (1,5%), a segunda menor taxa de letalidade (0,9%) e a segunda menor taxa de ocupação de leitos da região do oeste do Pará.
A rede paralela criada para atendimento dos pacientes de COVID-19 proporcionou muitos aspectos positivos. O município garantiu uma estratégia de proteção da população em geral e contribuiu significativamente com a diminuição da disseminação do vírus, garantindo um espaço e uma rede dedicada apenas ao cuidado destes pacientes, o que pôde ser constatado através dos índices e indicadores do município. Entre muitos outros aspectos, destacou-se a efetivação de um atendimento de maior qualidade, com atenção especializada e exclusiva. Os atendimentos foram integrais, a assistência ao paciente foi diária e constante e a criação do canal de comunicação Disk Vigilância criou um vínculo sólido, onde o paciente foi completamente assistido mesmo estando dentro de sua casa. E quando mesmo com todos os cuidados o paciente evolui para um caso grave e necessitou de um atendimento mais avançado, pôde contar com a rede paralela para seu deslocamento, atendimento, tratamento e regresso ao lar de maneira segura.
COVID-19 Itinerário Terapêutico, Rede de Atenção à Saúde.