O território do Distrito Federal é dividido em sete Regiões de Saúde, sendo que 27% dos mais de três milhões de habitantes residem na Região Sudoeste. Das 830 mil pessoas que nela vivem, 67% estão cobertas pela Estratégia Saúde da Família e são atendidas por dois Hospitais Gerais e duas Unidades de Pronto Atendimento. A realidade socioeconômica do território, agravada pelo impacto sanitário gerado pela pandemia do novo coronavírus, ampliaram um desafio importante para a gestão da APS: promover uma integração qualificada com a RUE, de forma a compartilhar o cuidado de usuários que necessitarem de transferência para as portas de urgência e emergência. Imbuída desse objetivo, a Direção Regional de Atenção Primária à Saúde da Região Sudoeste do Distrito Federal (DIRAPS/SRSSO/DF) criou a Central de Compartilhamento do Cuidado (CCC): uma iniciativa gerenciada por uma equipe multiprofissional que adota ferramentas simples e tecnologias leves, com a premissa de estreitar a comunicação entre os dois níveis de atenção, reduzir o tempo de espera por um leito na RUE e melhorar o acesso e o cuidado do usuário na Rede de Atenção à Saúde, principalmente nesse contexto de pandemia. Em pouco mais de dois meses de atuação a CCC foi capaz de encaminhar 95% das transferências solicitadas e reduzir o tempo médio de espera por um leito para 40 minutos.
Geral: Organizar e sistematizar a transferência de cuidado de forma qualificada entre a APS e a RUE;
Específicos:
Ampliar o acesso com qualidade na RUE;
Oferecer uma alternativa assistencial mais adequada e equânime ao usuário;
Ofertar apoio matricial para discussões de casos, pactuação de ações e monitoramento de eventos sentinelas;
Criar cultura de compartilhamento do cuidado através da comunicação efetiva, estabelecendo uma conexão dos profissionais da ESF com os profissionais da RUE.
Trata-se de um relato de experiência do qual uma equipe multiprofissional assume a responsabilidade pela transferência de usuários da APS para a RUE. A operacionalização da Central de Compartilhamento do Cuidado (CCC) ocorre por meio de um aplicativo de mensagens instantâneas, do qual os profissionais da CCC formam dois grupos: um com gerentes e trabalhadores das UBS e outro com gestores dos dois HG e das duas UPA. Identificada a necessidade de transferência, o profissional da UBS preenche um formulário, comunica o gerente e este envia uma foto do formulário já preenchido via mensagem instantânea. A partir desse momento a CCC entra em contato com a unidade solicitante e discute o caso para: (1) estabelecer a conexão; (2) propor intervenções, e; (3) encaminhar o caso no outro grupo de mensagens, com o objetivo de liberar um leito na rede. Faz-se a classificação de risco e o direcionamento do paciente com contato prévio, de modo que a transferência é de CUIDADO e não de conduta.
Entre 08 de julho e 19 de setembro de 2020 houve 483 solicitações de transferências de pacientes das UBS da Região Sudoeste para unidades de Urgência e Emergência, sendo que destas, 438 (95%) foram efetivadas. A análise descritiva dos pacientes demonstrou que 51% eram do sexo masculino, e 49% do sexo feminino, e que 72% possuíam mais do que 45 anos de idade. Quanto ao motivo da solicitação, 71% eram por conta de complicações causadas pelo COVID-19 e 29% por outras doenças, sendo que metade dos casos sinalizados como COVID-19 eram suspeitos, enquanto a outra metade já tinha confirmação. A classificação de risco conduzida pela equipe da CCC demonstrou que a maioria dos casos transferidos (61%) era de risco moderado, 33% eram de risco grave, 2% de risco crítico e apenas 4% de risco leve. Em relação ao destino desses usuários, observou-se que 56% foram removidos para os dois Hospitais Gerais, 24% para as UPA e 20% para outros destinos. Ao analisar o tempo dos deslocamentos, aferiu-se que o tempo médio de liberação de um leito via CCC foi de 22 minutos, ao passo que a saída das UBS levava, em média, 18 minutos, o que, num total gera um tempo médio de espera de 40 minutos.
O intuito e a mobilização para criar a CCC, juntamente com a realização de uma reflexão estruturada sobre seu funcionamento e resultados, permitiram identificar melhorias na interação entre servidores da rede no que compete a integração entre a APS e a RUE, gerando aproximação e vínculo entre profissionais que tinham pouco contato. A comunicação efetiva e a comprovação dos avanços por meio de dados e evidências, motivou a continuidade e o ganho de escala do projeto, de forma a repercutir em outras regiões e na administração central da Secretaria de Saúde. Aponta-se, no entanto, a dificuldade de manter essa estrutura com poucos servidores, bem como fragilidades na interação com as UPA e na unificação de prontuários, de forma a obstaculizar futuros ganhos potenciais da experiência, como melhorar o fluxo de referência e contrarreferência na região.
Transferência do Cuidado;
COVID19;
Região de Saúde Sudoeste;
APS ordenadora do cuidado;
Remoção de pacientes qualificada.