A doença ocasionada pelo novo coronavírus (COVID-19) é permeada de incertezas e características ainda não esclarecidas, porém, é inegável sua alta taxa de transmissibilidade e a possibilidade de ocorrência da síndrome respiratória aguda que varia de casos leves a graves, podendo chegar à letalidade em alguns deles. Sendo assim, a organização se fez necessária buscando a compreensão de como seria o comportamento da COVID-19 em nossa cidade, de como se daria a dinâmica de transmissão familiar e de quais seriam as orientações necessárias às equipes de saúde quanto à busca de dados mais precisos para a definição de isolamento e monitoramento adequados. Pensando nisso, para os casos iniciais, foi eleito genograma, ferramenta já conhecida da Atenção Básica que permite “enxergar” a família e suas relações. O genograma oferece de forma objetiva, dados referentes a uma determinada pessoa ou família, perpassando por uma revisão da interação familiar e de potenciais problemas de saúde. À medida que o genograma foi sendo usado, fez-se necessário associar outras informações e, com isso, elencou-se o ecomapa, agregando valor às discussões. O ecomapa é um desenho complementar ao genograma. Nele, pode-se incluir os contatos da família e outros setores sociais, como por exemplo, o trabalho, a igreja, locais de lazer, entre outros.
Conhecer a dinâmica de contaminação de COVID-19 em Leopoldina e nortear o Comitê Municipal de Enfrentamento, auxiliando-o nas tomadas de conduta para o combate e controle da doença.
Com a identificação dos primeiros casos em nosso município, o Comitê de Enfrentamento precisou orientar as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e os demais serviços de saúde do municípioquanto acriação de fluxos, de protocolo de utilização de testes rápidos comprados pela gestão municipal esobre quando interferir em empresas e outros locais quando o funcionário apresentar a doença ou seja, como o cuidado seria coordenado. A coordenação do cuidado é fundamental para oferecer melhoria na qualidade da prestação de serviços, reduzir barreiras de acesso agilizando o início do tratamento e integrar ações / serviços. Assim, podemos organizar o manejo dos recursos de modo a produzir uma oferta adequada do cuidado propriamente dito. O genograma e o ecomapa, trariam então, dentro de suas propostas preliminares, a maioria dos dados que precisaríamos naquele momento auxiliando-nos a entender o cenário micro e macro que envolvia cada indivíduo suspeito e positivo para COVID.Assim, foram analisados os primeiros quinze casos positivoscom o auxílio das duas ferramentas supracitadas propiciando amadurecimento da equipe no manejo clínico dos casos e estruturação de perguntas chave para os demais casos (quem são os residentes no domicílio, se e onde trabalham, em que turno, com que pessoas, existência de comorbidades, por exemplo). O conhecimento dos indivíduos e das relações na família e nos diversos espaços que percorrem, permite estabelecer com base em evidências epidemiológicas
A utilização do genograma e ecomapa nos primeiros casos de COVID, fez com que pudéssemos nos debruçar sobre cada caso, correlacionando o vínculo entre eles e o trânsito de algumas pessoas. Frente às perguntas frequentes e a análise dos dados captados, nossa equipe pôde traçar um plano de trabalho, orientando as equipes bem como o setor de epidemiologia, sobre quando e como usar os testes rápidos e com isso, promover o isolamento das pessoas em tempo hábil. Essa repetição de ações trouxe amadurecimento e maior segurança para direcionarmos as ações nos territórios onde de fato estávamos tendo aglomerações e acionar outros setores da prefeitura para nos auxiliar nas tarefas de enfrentamento. Além disso, foi possível iniciar um banco de dados para criação posterior de nossos gráficos epidemiológicos: mapa de calor com dados de casos positivos, faixa etária, sexo, taxa de avanço, média móvel, entre outros.
Apesar de serem ferramentas voltadas para abordagem familiar no sentido de permitir à equipe um acompanhamento ao longo dos ciclos de vida, trouxeram para o Comitê de Enfrentamento dados familiares e das relações entre si e com a comunidade, favorecendo busca rápida dos contatos e execução de ações em tempo hábil em instituições ou empresas. A análise de cada caso, possibilitou o uso racional e direcionado dos testes rápidos adquiridos pelo município. Além disso, trouxe empoderamento para a argumentação da gestão e dos profissionais frente ao desafio de promover o isolamento domiciliar e social Despertou, ainda, o interesse da equipe em ter os dados captados transformados em gráficos estatísticos e epidemiológicos, trazendo maiores esclarecimentos para todo o município.
COVID-19, genograma, ecomapa, coordenação do cuidado.