A Covid -19 é uma doença causada por um novo coronavírus (SARS-CoV-2) detectado pela primeira vez em Wuhan na China, no final de 2019. Desde então, o vírus vem se disseminando para várias regiões do mundo o que levou a Organização Mundial da Saúde a classificar a doença como uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional e, logo em seguida como uma pandemia1,2. O espectro clínico da Covid-19 varia de infecções assintomáticas a quadros graves. Os sintomas incluem febre, dor de garganta, cefaleia, tosse, coriza dificuldade para respirar, perda de olfato (anosmia), alteração do paladar (ageusia), distúrbios gastrintestinais (náuseas/vômitos/diarreia), astenia, diminuição do apetite, dispneia até uma pneumonia severa. A ocorrência de casos assintomáticos ou com sintomas clínicos leves, faz a infecção disseminar de forma silenciosa, contaminando e expondo uma grande parcela da população (LI et al., 2020). A Covid-19 chegou ao Brasil em março de 2020, através de um morador de São Paulo que retornava de viagens da Alemanha, França e Portugal. Na Bahia o primeiro caso confirmado foi um morador de Feira de Santana com histórico de viagens pela Itália, que na ocasião apresentava a transmissão sustentada da Covid-19. (OMS, 2020). Em vista do cenário alarmante de casos positivos e óbitos pela Covid -19 no mundo e no Brasil já registrados, e de um possível colapso nos sistemas de saúde, torna-se necessário avaliar a dispersão da infecção e propor medidas de combate.
Relatar o processo de Investigação Epidemiológica do primeiro caso confirmado da Covid-19 no estado da Bahia com o rastreamento dos contatos, caracterização clinica epidemiológica e as medidas de prevenção e controle adotadas pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde do município de Feira de Santana em março de 2020.
Trata-se de um relato de experiência da Vigilância Epidemiológica (VIEP) da Secretaria de Saúde de Feira de Santana- Bahia diante da constatação do primeiro caso da covid-19 na cidade. O município é o segundo mais populoso do estado e apresenta intensas conexões viárias, aumentando o fluxo de pessoas em seu território e facilitando a emergência e disseminação de patógenos. Os dados foram coletados a partir do sistema de notificação de agravos de notificação (SINAN) e dos boletins epidemiológicos elaborados pela VIEP de Feira de Santana-BA. Os instrumentos de coleta foram ficha de investigação de casos de Covid -19 adaptada pela equipe da vigilância. Foram coletadas amostras clinicas de secreção de orofaringe para pesquisa do SARS-CoV-2 através de testes de biologia molecular (Rt-PCR) para todos os casos suspeitos e encaminhados ao Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (LACEN-BA) para serem processadas. A busca ativa de contatos dos casos confirmados envolveram as equipes da VIEP e da Vigilancia Sanitária da cidade. A análise dos dados foi através do Sistema de Informação do Ministério da Saúde e a apresentação dos resultados através de tabelas e gráficos.
O primeiro caso confirmado de Covid-19 na Bahia ocorreu em fevereiro de 2020. Trata-se de uma moradora de Feira de Santana-Bahia com histórico de viagem para a Itália e que apresentou sintomas gripais (febre e sensação de desconforto na região torácica) seis dias após o retorno ao Brasil. Foi inicialmente atendida em uma Unidade da Rede Privada em Salvador que após avaliação medica e resultados negativos para vírus respiratórios, foi liberada para casa. O histórico de viagem recente para a Itália chamou a atenção dos órgãos de vigilância do estado e do municipio que iniciaram a investigação. Foi realizada a coleta de uma segunda amostra de secreção de orofaringe e encaminhada ao LACEN-BA cujo Rt-PCR foi detectável para SARS-Cov-2. Um total de 12 pessoas foram monitorados sendo três confirmadas laboratorialmente (Figura1). O segundo caso trate-se da empregada doméstica que relatou dor na garganta e desconforto respiratório três dias após o contato com o caso índice. Dois novos casos foram detectados (mãe e pai da funcionária). Um dos casos manteve persistência de positividade do PCR por aproximadamente 2 meses. Os demais contactantes após o monitoramento não apresentaram sintomas e seus exames de Rt-PCR para SARS-CoV-2 foram não detectáveis sendo então descartados. Mesmo com todas as medidas de isolamento social, monitoramento, busca ativa e ações educativas adotadas, o município enfrentou uma epidemia da doença registrando até o momento 8. 532 casos da Covid-19.
A deficiência na implementação imediata das medidas de prevenção e de restrição da circulação do caso suspeito pelas autoridades sanitárias, facilitou a transmissão da doença para outras pessoas contactantes do casos índice. O tempo transcorrido entre o conhecimento do caso pela Unidade de Saúde onde ocorreu o primeiro atendimento e o repasse da informação para o serviço de vigilância epidemiológica municipal foi de cinco dias fato este que possivelmente contribuiu para o atraso no monitoramento e cumprimento adequado das medidas de isolamento domiciliar e busca de possíveis contatos a fim de impedir a transmissão para outras pessoas contactantes próximas desse primeiro caso. A pouca informação sobre a doença por parte dos profissionais de saúde e a demora na notificação do caso contribuiu para a propagação da doença. Os sintomas leves apresentados pelos casos pode levar os pacientes a terem uma sensação de segurança e ausência de possibilidade de risco de transmissão e disseminação para outras pessoas do seu convívio social.
Vigilância Epidemiológica, Covid-19, SARS-CoV-2, Relato de Experiência.