Antes da pandemia, São Lourenço do Sul/RS aderiu ao processo da Planificação do SUS e implantou uma Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental (AMENT).O município tem sido pioneiro em ações de saúde mental há mais de 30 anos. O Ambular é um dispositivo ambulatorial da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que se destina a desenvolver apoio matricial em saúde mental às equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) /Estratégia de Saúde da Família (ESF). A equipe é composta por 02 psicólogas, 01 assistente social, 01 enfermeiro e 01 médica psiquiatra, sendo campo de formação/atuação de profissionais médicos residentes em psiquiatria e profissionais da residência multiprofissional da Escola de Saúde Pública/RS. Entre as ações desenvolvidas pelo dispositivo, destacam-se o apoio e fortalecimento da saúde mental na APS através de matriciamento, educação permanente, pesquisa e indiciadores, e assistência multiprofissional aos usuários do SUS.A emergência da pandemia COVID-19, o isolamento social e distanciamento social, impactam diretamente a saúde mental da população. É sabido que eventos extremos vividos durante a história da humanidade possuem relação com o aumento relevante dos casos de suicídio e tentativas. Considerando a complexidade do fenômeno do suicídio e o impacto psicossocial da pandemia, criou-se o projeto “2020 todos os meses são amarelos”, na perspectiva de qualificar as ações de prevenção ao suicídio e proteção à vida.
Os objetivos foram ampliar e qualificar ações de apoio e educação permanente em saúde mental relacionados a vigilância, prevenção, avaliação, plano terapêutico e encaminhamento dos casos de plano, tentativa ou comportamento suicida na APS, fortalecendo o cuidado longitudinal à saúde mental no âmbito da APS, considerando a importância desses serviços no contexto atual.
Em Junho de 2020 definiu-se uma equipe técnica para atualização do Protocolo Municipal de Prevenção ao Suicídio. O documento foi atualizado com contribuições dos profissionais que compõe a equipe AMBULAR e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O Protocolo foi concluído em Julho de 2020, encaminhado à todos os serviços da RAPS incluindo as 14 Unidades Básicas de Saúde, na zona rural e urbana, que possuem apoio matricial. As 14 UBS são contactadas semanalmente por um profissional referência para levantamento de casos que precisem de apoio matricial.Foram produzidos materiais de mídia como vídeos, animações e imagens, baseados neste material, de modo a facilitar a disseminação de informações em saúde entre os profissionais utilizando-se das tecnologias da informação (computadores, celulares, grupos de Whatsapp) como ferramenta para o ampliar ações de Matriciamento saúde mental.Em Setembro estão previstas Lives (reuniões online) com os profissionais da equipe matriciadora e as equipes da Atenção Primária à Saúde, de modo a realizar Educação Permanente sobre prevenção ao Suicídio, ofertando suporte às equipes na avaliação e conduta nos casos de ideação, plano ou tentativa de suicídio.
Foi elaborado um novo Protocolo Municipal de Prevenção ao Suicídio, baseado no documento anterior estabelecido em 2015. O Protocolo Assistencial foi ampliado, de modo a considerar dados epidemiológicos municipais, orientações aos serviços da RAPS e a outros setores da sociedade civil importantes na prevenção do fenômeno do suicídio. O documento fornece suporte teórico a rede de prevenção e estimula ações em saúde intersetoriais.Através da Educação Permanente desenvolvida em formato de Lives (reuniões online), pretende-se capacitar as equipes da APS a identificar e acolher indivíduos em sofrimento psíquico intenso, fomentar a construção de Planos Terapêuticos Singulares, transmitir segurança aos profissionais da assistência a partir do respaldo teórico, estabelecer o Protocolo Municipal como norteador para a tomada de decisão na avaliação do risco e manejo dos casos, fortalecendo o dispositivo AMBULAR como apoio às equipes.
A temática do suicídio, que já apresentava aumento dos índices na população brasileira, possui relevância diante de uma emergência de impacto psicossocial como a COVID-19. Com a impossibilidade de desenvolver encontros presenciais, o uso das tecnologias da informação foi fundamental para a elaboração e manutenção das ações de matriciamento em saúde mental. Explorar tais recursos foi uma alternativa encontrada pela equipe especializada de aproximar os serviços e qualificar a comunicação entre os profissionais, mostrando-se potente ao matriciamento em saúde mental. A experiência 2020 amarelo será desenvolvida em todo o ano de 2020 como medida de enfrentamento ao vírus, considerando a quarta onda prevista nos sistemas de saúde, onde há aumento dos transtornos mentais e traumas psicológicos, agravada pela circunstância de necessário isolamento e distanciamento social.
Saúde Mental. Educação Permanente. Suicídio. Pandemia