A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) é a maior emergência de saúde pública que a comunidade mundial enfrenta em décadas, ocasionando impactos diretos no cotidiano do trabalhador do SUS. Verificou-se reflexos na saúde psíquica tanto dos profissionais de saúde que atuam na linha de frente quanto os responsáveis pelos processos administrativos, manifestando sofrimentos de diversas ordens: fragilidades, inseguranças, incertezas, medos, fobias, alto grau de estresse. Diante de tal contexto, fez-se necessário pensar ações em Educação Permanente em Saúde a fim de desenvolver metodologias que ofertassem orientações, suporte e acolhimento psicológico a todos os servidores da saúde de Montes Claros, para minimizar os impactos psicológicos causados pelo cenário da pandemia, apoiando-os como medida de enfrentamento. Pesquisas relativas a outras epidemias apontam que de 1 a 2/3 da população que enfrentam momentos como esse podem vir a ser acometidas por algum transtorno psicopatológico caso não seja ofertado cuidados em saúde mental antes, durante e depois do processo de epidemia e ou pandemia. A ação de escutar e ofertar cuidados psicológicos aos profissionais da saúde configura-se como uma intervenção fundamental em suporte psicológico para os servidores públicos da saúde, lugar para fala onde os mesmos podem endereçar seus sentimentos, emoções, medos, incertezas e angústias. Validar tais sentimentos e reconhecer os desafios desse momento configura-se cuidado em saúde mental.
Promover saúde mental aos servidores públicos da saúde Município de Montes Claros-MG. Viabilizar um espaço de suporte psicológico articulado com a rede de Atenção Primária a Saúde. Ofertar encaminhamento psicológico para o servidor que se encontra em crise e ou tivera sua crise potencializada em virtude da pandemia. Identificar através das demandas psicológicas apresentadas a necessidade da oferta dos Primeiros Cuidados Psicológicos.
O projeto tem funcionamento regulado de segunda a sexta-feira no horário de 8:00h às 17h:30min, conta com uma equipe de dez psicólogas, sendo organizada a escala de duas profissionais por turno. Os atendimentos são realizados de modo remoto através de dois aparelhos celulares corporativos. Organizou-se uma lista de contatos telefônicos de todos os profissionais que trabalham de maneira direta e ou indiretamente no âmbito da saúde que compõem a atenção primária, secundaria da saúde pública, bem como todos os profissionais que fazem parte da gestão em saúde. Oferta o cuidado de modo remoto, por meio de ligação telefônica, podendo contactar o servidor ou receber as demandas de modo espontâneo. Realiza-se o acolhimento psicológico na modalidade de plantão e sendo necessário oferta-se os primeiros cuidados psicológicos. Apresentado o servidor demanda para acompanhamento em psicoterapia, o caso é articulado com o psicólogo da Unidade Básica de Saúde, caso haja necessidade de realizar a psicoterapia no horário das atividades laborais o servidor tem suas horas justificadas. Os encaminhamentos são enviados ao psicólogo da APS através do serviço de malote. Realizou-se também postagens na rede social da Secretaria Municipal de Saúde tendo como eixo temático: saúde mental, sendo ofertado orientações de cuidado. As postagens foram organizadas através de discussões das cartilhas do Ministério da Saúde e da Fundação Osvaldo Cruz, postadas semanalmente.
Como resultado desse trabalho identificou efeitos importantes na humanização das relações de trabalho, o dispositivo foi tido como referência enquanto acolhimento e cuidado das demandas relativas ao sofrimento psíquico em decorrência dos aspectos da pandemia, melhoria da qualidade de vida: como mudanças de hábitos levando em consideração o bem-estar físico e mental, aprimoramento da comunicação, facilitação do enfrentamento da pandemia, retorno dos servidores quanto a importância do acolhimento, identificação da necessidade de encaminhamento ao atendimento psicoterápico presencial, orientações de cuidado e principalmente um lugar de referência para buscar suporte. Cumpriu-se o total de 1.270 atendimentos efetivos, sendo as categorias beneficiadas: Agentes Comunitários de Saúde (ACS) Advogado (a) Agente Social, Auxiliar Administrativo Auxiliar de dentista Auxiliar de farmácia Conselheiro (a) da saúde Dentista, Enfermeiros Estagiários Farmacêuticos Fisioterapeutas Médicos, Monitor de oficina Motorista Pedreiro Protético Psicológos (a) Recepcionistas Recursos humanos Residentes, Servidores (gestão), Técnico Higiene Bucal (THD) Técnicos de Enfermagem Zeladoria. Os atendimentos não restringiram apenas aos profissionais da saúde, fora ofertado suporte para pacientes, usuários do SUS, que aguardavam resultados de exames COVID-19 e ou testaram positivo.
Inicialmente o projeto disponibilizou os telefones para recebimento de chamadas, entretanto as demandas de ligações eram baixas, percebemos então que as demandas chegavam através de outros profissionais, os quais solicitavam atendimentos para os colegas de trabalho. Diante do grande número de demandas direcionadas neste viés foi considerado importante realizar ligação a todos os servidores com o intuito de explicar o projeto e os perguntar como estava sendo o momento da pandemia para estes. Percebeu-se que os servidores têm dificuldade de procurar o serviço da psicologia, entretanto quando esse cuidado é ofertado os mesmos demandam o acolhimento. Percebeu-se também que embora o servidor não faça contato com o serviço, os mesmos referenciam e o reconhecem como um dispositivo de suporte, desta maneira ter um serviço de acolhimento é de certo modo uma oferta de cuidado. Destarte, observa-se que os servidores se sentem aparados com a rede de apoio e demonstram estarem mais apaziguados ao perceber que a gestão reconhece a necessidade de acolhimento e apoio psicológico como uma ferramenta de auxílio ao trabalho principalmente neste momento de crise na saúde em todo cenário mundial.
Escuta situacional, Acolhimento psicológico, Profissionais da Saúde, Efeitos, Pandemia COVID-19.