Em março de 2020 foi declara a pandemia do novo Coronavírus, neste mesmo período a Paraíba confirmou o primeiro caso de infecção pelo Sars-CoV-2, já o município de Cajazeiras registrou a primeira infecção em 20 de abril. Com a identificação do primeiro caso, Cajazeiras, situada no alto sertão da Paraíba, pertencente a III macro regional de saúde do estado, com população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 61.993 habitantes, reforçou ainda mais as medidas voltadas à contenção do vírus e continuou a traçar estratégias de cuidado à saúde e em 20 de maio de 2020 adotou uma medida pioneira para enfrentamento ao novo coronavírus: a implantação de uma Unidade Municipal de Referência à COVID-19. Este serviço de saúde é voltado totalmente para identificar e tratar os casos suspeitos ou confirmados com sintomas leves e moderados de coronavírus. Ressalta-se que a oficialização e consequente destinação orçamentária por parte do Ministério da Saúde para estes Centros de Atendimento para Enfrentamento à COVID-19 somente se concretizou posteriormente mediante a portaria nº 1.445/2020. Desta forma, observou-se um olhar ampliado e precoce no cuidado à saúde diante do cenário de pandemia vivenciado, assim o município contaria com uma serviço de referência capaz de abarcar a nova demanda em saúde de maneira resolutiva ao mesmo tempo que retomaria com mais segurança (tanto para profissionais como usuários) os atendimentos usuais na Atenção Primária à Saúde.
Este trabalho tem como objetivo geral descrever a experiência pioneira de cuidado em saúde para os casos de síndromes gripais no município de Cajazeiras a partir da implantação Unidade Municipal de Referência à COVID-19 em maio de 2020. Os objetivos específicos são: apresentar a estrutura organizacional e operacional da Unidade de Referência à COVID-19 do município de Cajazeiras apresentar os dados de atendimento referente aos primeiros 90 dias de funcionamento e as repercussões positivas desse serviço de saúde no setor da Atenção Primária à Saúde.
A Unidade Municipal de Referência à COVID-19 de Cajazeiras funciona 12 horas ininterruptas diariamente de segunda à sexta-feira, e classifica-se como tipo I de acordo com a portaria do Ministério da Saúde nº 1.445/2020. O serviço dispõe de amplo espaço físico e adaptado para atendimento exclusivo à demanda de casos suspeitos e/ou confirmados de coronavírus, conta com recepção, salas destinadas ao acolhimento/triagem e testagem rápida, consultórios médico e de enfermagem. O serviço caracteriza-se como porta aberta aos usuários e como referência as 24 equipes da Estratégia de Saúde da Família instituídas no município. Visando formalizar o fluxo estabelecido foram instituídos instrumentos próprios que propiciam aos profissionais das equipes de Atenção Primária referenciarem (se necessário) os usuários para a Unidade. Foram elaborados instrumentos para registro e controle de atendimentos médicos/triagem e testagens rápida para Sars-CoV-2 que possibilitam o acompanhamento diário de pacientes atendidos pelos profissionais médicos e de enfermagem que apresentam sintomas gripais no município, bem como o percentual de usuários testados para o novo coronavírus e o percentual de resultados positivos. Os dados foram analisados e agrupados em intervalos de média de 30 dias, se identificando três intervalos: o primeiro de 20/05/2020 a 19/06/2020 o segundo de 20/06/2020 a 21/07/2020 e o terceiro de 22/07/2020 a 20/08/2020.
Mediante a avaliação do instrumento de acompanhamento de atendimentos e testagens rápida da Unidade de Referência constatou-se a realização de 1.928 atendimentos médico e de enfermagem no primeiro intervalo de tempo, 2.259 no segundo e 1.712 no terceiro. Quanto a realização de testes rápidos e resultado para anticorpos do Sars-CoV-2, 1.156 usuários foram testados no serviço de maio a junho (162 positivaram), 1.429 de junho a julho (289 positivaram) e 1.095 de julho a agosto (229 positivaram). Os dados revelam um aumento nos atendimentos de 9,3%, de testagem em 24,8% e de testes positivos em 41,32% comparando o primeiro com o segundo intervalo de tempo de funcionamento do serviço. Já comparando o segundo com o terceiro intervalo de tempo percebe-se uma diminuição em cerca de 20% em cada item analisado. A implantação precoce deste novo serviço permitiu que as atividades da Atenção Primária à Saúde do município sofressem minimamente os impactos da pandemia. Assim, houve uma queda de apenas 5,1% nos atendimentos individuais das equipes de saúde da família entre os meses de maio a junho as condições de saúde que fazem parte de um cuidado continuado permaneceram recebendo a devida atenção passando apenas por um processo de reorganização bem como foi possível uma redução no fluxo dos usuários suspeitos de coronavírus nas Unidades Básicas de Saúde o que pode ter levado a diminuição do risco de transmissão de usuário-usuário e o risco de transmissão usuário-profissional de saúde.
Diante do exposto, verifica-se que o aumento do número de casos positivos entre maio a julho no município reafirmam a interiorização da COVID-19 na Paraíba no período em análise. Os dados nos permite ainda identificar uma tendência à queda na procura do serviço consequentemente menos testes foram realizados e menos testes positivaram entre os meses de julho a agosto. Essa redução em torno de 20% dos atendimentos, testagem e positivação de casos neste período pode ser reflexo de dois fatores: uma verdadeira desaceleração dos casos, como também a utilização de outros serviços para atendimentos de casos suspeitos como a Atenção Primária e para testagem como Policlínica Municipal que é responsável pela realização dos testes nos finais de semana e feriados. Mas vale reforçar e destacar que a estratégia de implantação de um serviço de saúde totalmente voltado para atender os casos de síndromes gripais especialmente no período de pico da pandemia, pode ter permitido diagnosticar, tratar precocemente e de maneira eficaz os casos de coronavírus diminuindo o risco do quadro grave da doença em Cajazeiras.
Palavras-chave: Infecções por coranavírus, Atenção Primária à Saúde, Sistema Único de Saúde.