No atendimento especializado em saúde mental, o município de Mairiporã possui dois Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), sendo um do tipo I e um do tipo AD. Além disso, na Unidade Básica Central, Dr. Emílio Luiz Lattari, são realizados atendimentos ambulatoriais de diversas especialidades médicas, incluindo a psiquiatria e a psicologia. No início da epidemia de SARS-CoV2, esta unidade de saúde, foi modificada para que pudesse funcionar como local de atendimento de síndromes gripais, enquanto o Hospital de Campanha não iniciava os atendimentos. Para que isto pudesse ser efetivo, algumas modificações foram necessárias na rede assistencial. As consultas especializadas e de rotina na unidade foram suspensas e os atendimentos imprescindíveis de serem realizados numa unidade básica, foram alocados no prédio do CAPS AD. Já os atendimentos em saúde mental de ambos os CAPS foram concentrados num único local, no prédio do CAPS I. A coordenação de saúde mental, por entender que pacientes em acompanhamento no ambulatório na psiquiatria poderiam ter seus quadros de saúde agravados por cessação abrupta do tratamento, organizou para que a equipe de psicologia e psiquiatria também ficasse alocada durante o período no prédio do CAPS I, fornecendo assim suporte a qualquer caso da saúde mental, independente da gravidade num mesmo local.
Os objetivos principais foram manter a terapêutica medicamentosa dos munícipes em uso de medicação psicotrópica, mesmo durante o período da pandemia e realizar algum contato (telefônico ou presencial) com pacientes em tratamento psiquiátrico e psicológico para avaliar piora do quadro psiquiátrico devido o isolamento social. Também tínhamos objetivos secundários, sendo pensada nesta ação como uma forma de conhecer, mesmo que por um curto período de tempo, a demanda de psiquiatria e psicologia no município, já que temos uma demanda reprimida incessante nesta especialidade e uma grande quantidade de prescrição de medicações psicotrópicas, em especial de inibidores seletivos da recaptação de serotonina e benzodiazepínicos. Além disso, foi de extrema importância para o fortalecimento de uma rede que todos os trabalhadores da saúde mental do município se conhecessem, trabalhassem juntos e conseguissem trazer soluções para demandas dos usuários como um conjunto de trabalhadores únicos.
A ação foi realizada no período de 23 de março de 2020 a 30 de abril de 2020. Os médicos psiquiatras foram organizados em esquema de plantão, portanto em todos os dias da semana havia um profissional disponível para atendimento, fornecimento de receitas e auxílio nos casos atendidos pelos técnicos. Para as consultas cadastradas no sistema de agendamento como “primeira vez” foi realizado contato telefônico por um psicólogo para avaliar a gravidade do quadro e se já estava em uso de medicação psiquiátrica, já que as consultas haviam sido canceladas, sendo fornecidas prescrições ou atendimentos presenciais sempre que necessário. Os atendimentos nos serviços CAPS foram mantidos através de teleatendimento e também consultas presenciais, sempre avaliando risco de infecção pelo novo coronavírus.
Neste período, foram realizados 399 solicitações de atendimentos presenciais com demandas de consultas médicas ou prescrição de medicações, sendo 42 usuários do CAPS I e 22 usuários do CAPS AD. Haviam 95 consultas cadastradas no sistema de agendamento como “primeira vez” e para estes pacientes foi feito contato telefônico por um psicólogo para avaliar a gravidade do quadro e se já estava em uso de medicação psiquiátrica, já que as consultas haviam sido canceladas. No período foram realizados 26 atendimentos psiquiátricos presenciais, devido à gravidade do quadro apresentado e 5 foram encaminhados à Estratégia de Saúde da Família de seu território, por conta de risco para infecção pelo SARS-CoV2 ou por trazerem demandas clínicas. Além destes atendimentos, que eram relacionados a consulta médica, também foi mantida a atividade de atenção diária no CAPS para alguns pacientes com quadros mais agravados sem suporte familiar ou que estavam em situação de rua, a fim de minimizar os riscos da infecção pelo novo coronavírus. O acolhimento inicial foi mantido integralmente para munícipes que buscassem o serviço por demanda espontânea e foram realizados teleatendimentos e visitas domiciliares sistemáticos para os casos mais agravados que já estavam em acompanhamento nos três serviços.
Para esta ação, foi necessário empenho de todos os trabalhadores da saúde mental para que as ações ocorressem de forma harmoniosa, fortalecendo assim a visão do trabalho em rede para estes. Como efeito positivo, estão mantidas reuniões periódicas entre as equipes dos CAPS e a melhora da comunicação com a equipe ambulatoriais. Não houve descontinuidade do tratamento medicamentoso de quem tinha consulta agendada em nenhum nível de atenção e nem dos que procuraram espontaneamente o serviço, sendo inclusive realizada a prescrição medicamentosa de 9 pacientes medicações neurológicas. Outro fator importante foi conhecer de forma mais próxima e com mais informações a grande demanda de atendimento psiquiátrico no município. Com os dados obtidos na ação, será possível realizar um diagnóstico situacional mais adequado desta demanda, para que possam ser planejadas ações mais efetivas. Foi constatada grande prescrição de medicação psicotrópica, sendo em sua maioria de antidepressivos e benzodiazepínicos, o que não pode ser atribuido a casos graves de saúde mental, mas sim a falhas ao acesso a outras formas de cuidado nos diversos níveis de atenção, sendo o resultado disto a medicalização.
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