A COVID-19 é uma doença infecciosa ocasionada pelo novo patógeno viral SARS-CoV-2, identificado em dezembro de 2019 na China, na cidade de Wuhan. Em 11 de março foi declarada como uma pandemia pela OMS. E até o dia 9 de agosto havia registro de mais de 19 milhões de casos e 727 mil mortes em 215 países ao redor do mundo1.
O Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos e mortes no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e no dia 8 de agosto atingiu a marca de 100 mil mortes. Na cidade de Florianópolis, local onde foi desenvolvido o trabalho, havia registros de mais de 8.500 casos e 82 mortes até o dia 9 de agosto.
Dentre as orientações recomendadas pela OMS para o enfrentamento da pandemia, as medidas não farmacológicas ainda são as mais recomendadas e seguramente eficazes. Estas medidas envolvem o isolamento para pessoas com sintomas e o distanciamento social para a população em geral, além da higienização das mãos e o uso de máscaras faciais.
Visando a proteção comunitária e a investigação de possíveis surtos, a gestão municipal de Florianópolis adotou como importante ação de enfrentamento o rastreamento de contatos, também conhecido como contact tracing, considerado um método científico relevante na área da epidemiologia. Neste contexto, o rastreamento visa detectar todos os indivíduos que tiveram contato com uma pessoa com COVID-19 a fim de criar um vínculo epidemiológico e conter a disseminação viral através de medidas de restrição para suspeitos (contatos).
Objetivo geral:
Analisar a implementação do contact tracing como estratégia de proteção comunitária e investigação de surtos de COVID-19 no município de Florianópolis (SC).
Objetivos específicos:
● Desenvolver metodologia que construa linha do tempo dos casos positivos para identificar período de incubação e infecção do vírus;
● Identificar contatos próximos (definição PACK COVID-19 Versão Florianópolis 5ª Edição) intra e extra domiciliares, deslocamentos externos e uso de meios de transportes que indiquem local de infecção ou transmissão;
● Notificar os contatos próximos através do sistema municipal de saúde (CELK) para testagem;
● Integrar, pelo contact tracing, diferentes plataformas de rastreamento e de notificação nacionais, estaduais e municipais para investigação dos casos positivos, suspeitos ou surtos;
● Notificar a Regional de Saúde após identificar caso positivo ou contato próximo de caso positivo residente em outro município.
Para execução do contact tracing no município elaborou-se um Procedimento Operacional Padrão (POP) com o seguinte fluxo:
1) Investigador abre planilha de registro dos casos positivos, atualizada diariamente com novas notificações;
2) Investigador abre pasta contendo planilha para novo caso a ser investigado, podendo ser definido casos prioritários;
3) A investigação é iniciada a partir do envio de questionário padrão, o qual a pessoa descreve sintomas, comorbidades, deslocamentos e contatos próximos. Caso seja identificado inconsistência nas respostas o investigador responsável entra em contato. O questionário deve ser respondido em até 24h, sendo encaminhada para a Vigilância Sanitária após esse período;
4) Investigador preenche relatório descrevendo os dados do paciente (unidade notificadora, linha do tempo de deslocamento e sintomas, especificação do teste realizado; comorbidades, ocupação, local de trabalho e se é contato de algum caso positivo/suspeito) e a lista de contatos (nome, telefone, data de contato próximo, sintomas e orientação de termos)
5) Investigador realiza rastreamento de deslocamento por meio do aplicativo Smart Tracking;
6) Investigador encaminha formulário padrão de investigação de contatos próximos por WhatsApp solicitando mais informações e termo de restrição quando necessário. Após resposta, contatos são notificados no sistema municipal de saúde de Florianópolis. Contatos próximos passam a ser monitorados pelos Centros de Saúde e são testados.
A implementação do contact tracing no município de Florianópolis (SC) tem se apresentado como estratégia de proteção comunitária e investigação de surtos de COVID-19. A metodologia desenvolvida tem possibilitado construir linha do tempo em torno dos casos positivos notificados, rastreando locais e indivíduos com os quais o caso índice teve contato, definindo vínculos epidemiológicos e contribuindo para avaliação da evolução temporal da doença. Desde 26 março de 2020 até 15 de agosto de 2020, já foram finalizadas a investigação pelo contact tracing de aproximadamente 440 casos positivos de COVID-19, 3.103 estão em investigação e 915 casos foram descartados. De uma amostra de 100 casos positivos investigados, é possível ter como resultado uma média de 3,2 contatos próximos rastreados e notificados por cada caso positivo identificado. Ou seja, o método consegue abranger 1510 pessoas a cada 500 casos investigados. Considera-se relevante a metodologia também por ela possibilitar orientar, com maior precisão, os casos positivos índices, contatos suspeitos ou surtos para adoção de medidas de restrição. Na articulação com outros setores da Vigilância em Saúde do município como, por exemplo, a Vigilância Sanitária, viabiliza-se uma fiscalização mais eficaz, na medida que autua casos positivos que negam fazer o isolamento ou descumprem as medidas de restrição domiciliar, assim como sobre aquelas pessoas que negam repasse de informações sanitárias e epidemiológicas.
O uso do contact tracing no enfrentamento da COVID-19 em Florianópolis (SC) tem se apresentado como importante estratégia na proteção comunitária e investigação de surtos. O contact tracing amplia a investigação dos casos ao rastrear o leque de contatos e identificar possíveis surtos. Ao contrário de muitos municípios, a gestão municipal de Florianópolis optou pela notificação dos contatos como forma de controlar a pandemia ao restringir a circulação de possíveis infectados. A ferramenta também auxilia dando a real dimensão da pandemia no município, pois contribui com os dados que vão para a Sala de Situação, dentro da plataforma Covidômetro (base de dados da COVID-19 no município). O Smart Tracking, criado em Florianópolis, é também uma das ferramentas do contact tracing, utilizada para o rastreamento dos indivíduos diagnosticados com a doença durante o período de incubação, ao monitorar os locais por onde ele passou. Assim, afirma-se que o contact tracing é uma ferramenta de sucesso no enfrentamento da pandemia, situando Florianópolis como a capital brasileira com menor mortalidade pela COVID-19, com taxa de 15,4 mortes para cada 100 mil habitantes.
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