Em Viçosa/MG (população 79.380, IBGE), as ações de combate à pandemia se iniciaram em Março, com muitas incertezas, mas na necessidade de agir rápido em medidas de contenção e prevenção. Uma das principais incógnitas era o processo de notificação da COVID, naquele momento, por orientação dos Governos, seguia protocolos da SARS.
O processo era: Profissional de saúde em sua unidade de atenção básica preenchia a ficha (Papel) com dados do paciente e encaminhava fisicamente para o Setor da Vigilância Epidemiológica (VE) prosseguir com suas demais operações (testes, boletins, comunicação aos Governos, etc.). Porém, no município são mais de 25 Equipes SUS notificantes, além de laboratórios e outros profissionais particulares. Além da ilegibilidade da escrita e a logística não colaborativa entre essas unidades, era uma operação muito repetitiva, arriscada de perda de informações e pouco ágil aos gestores municipais e do SUS tomarem decisões.
Outro incômodo era a demora de informação por parte dos Governos e o advento das subnotificações. Além da dificuldade lógica-operacional de parte dos profissionais de saúde no acompanhamento dos pacientes, bem como o dificultoso rastreio epidemiológico.
Assim, a VE viu a necessidade de criar novos processos e ferramentas, respeitando todos os protocolos. Tal senso de urgência para agir de forma preventiva, pois considerando dados de projeção na época, haveria grandes picos e a forma pela qual funcionava os processos a VE entraria em colapso.
Criar uma solução que pudesse: Digitalizar o processo de notificação do Coronavírus; Agilizar e facilitar a notificação por parte dos profissionais de saúde; Tornar instantânea as informações à Vigilância Epidemiológica e aos gestores SUS municipal; Criar um banco de dados facilmente acessível (pelos gestores e VE) dos pacientes; Auxiliar na análise e tomada de decisão com base em dados; Facilitar o rastreio epidemiológico; Evitar perda de informações e subnotificações; Entender o perfil epidemiológico municipal; Gerir a operação notificação-testagem-acompanhamento epidemiológico municipal; Prestar assistência e atenção ágil à população; Auxiliar na transparência e curadoria de informações à comunidade constantemente; Descentralizar das atividades por parte do setor administrativo-epidemiológico (Vigilância Epidemiológica), tendo apoio e participação dos diversos profissionais de atenção básica, urgência e emergência.
A Plataforma CORONAZERO foi desenvolvida em uma parceria público-privada, entre a Secretaria Municipal de Saúde de Viçosa-MG e empresa TOBLUE, nas duas primeiras semanas de Abril e moldada sob demanda da realidade em semanas seguintes. Tal é constituída por quatro principais módulos: 1°) Ficha Eletrônica onde os profissionais de saúde que recebem o login com base em suas unidades de atenção, independente do local que estejam atuando, computem as informações do procedimento da notificação dos pacientes com suspeita (sintomáticos ou não) da COVID, seguindo protocolos do Governo Federal e Estadual; 2) Ferramenta de Gestão e controle de dados por parte da Vigilância Epidemiológica realizar procedimentos seguintes como testagem, acompanhamento, controle de duplicatas e subnotificação, informe aos Governos, gestão de Agravos (SINAN) entre outras ações; 3°) Painel de Gestão modelo Business Intelligence (BI) com dashboard e análise de informações para os gestores e geração de boletins epidemiológicos à comunidade, sendo incrementado com dados externos; e 4°) Ferramenta de auxílio ao tele-monitoramento dos sintomáticos por parte dos profissionais de atenção básica.
Todos esses módulos são sistematicamente conectados, o que permite ques as informações estejam instantaneamente para ambas as partes envolvidas. Vale ressaltar que toda infraestrutura está em código de programação, sendo o front (o que você vê) em partes utilizando plataformas terceiras como Google Sheets.
Desde Março todas as notificações do município foram (e continuarão sendo) computadas na plataforma, num montante de 5.664 (19 de Setembro), em mais de 27 unidades notificantes. A agilidade das operações da VE estão sendo imensuráveis. Imagine gerir em média cerca de 50 notificações por dia, às vezes mais de 120, recebendo isso em papel de vários locais? Literalmente um caos, principalmente nas atividades seguintes: testagem, rastreio, monitoramento, análise.
O banco de dados é composto com idade, gênero, escolaridade, raça/etnia, unidade e profissional notificante, data da notificação, dados pessoais de contato, email, CPF ou CNS, transmissibilidade (locais visitados e círculo de convivência), sintomas, fatores de comorbidade, informações sobre internação e vacinação, data de primeiros sintomas, data e local de testagem, tipo e resultado do teste.
Além disso, no dashboard (BI de gestão) possui indicadores de volume de casos do Brasil e Minas Gerais, índices de isolamento social, taxas de contaminação e mortalidade, entre outras correlações entre os dados acima mencionados, bem como um painel de visualização de Geolocalização.
Essas ferramentas foram e estão sendo essenciais à tomada de decisão em ações preventivas e de contingência, o que, por exemplo, pode ter resultado ao mérito ao município como uma das cinco cidades brasileiras (+50.000 habitantes) sem óbito até Agosto. Por um complexo de “efeito dominó” de ações-resultados da gestão municipal de saúde.
É incontestável que a tecnologia tem ajudado a saúde pública neste momento, inclusive em outras vertentes de contingência, como vigilância sanitária de comércios, barreiras sanitárias, ouvidoria, etc. Ações que nos permitiram atender a população e ajudar nossos profissionais da saúde na linha de frente. Vale ressaltar que a tecnologia é um modulador que acelera e melhora as operações, e que se soma a outras ações tomadas. A CORONAZERO é uma ferramenta exemplo criada em Viçosa/MG, por uma demanda existente da pandemia e não encontrada até então em outro local, mas que seu resultado se prostrou real e aplicável em qualquer outras realidades que estejam passando pela mesma situação. Isso nos abriu os olhos em aplicar esse tipo solução como essas para outras vertentes pautadas às diretrizes do SUS, o acelerando e deixando-o mais eficiente.
Inclusive, tem-se evoluído a plataforma para concentrar e atender todos os Agravos, permitindo uma gestão epidemiológica orientada a dados, gerando consequentemente mais resultados para a população como um todo.
Tecnologia na Saúde; COVID-19; Gestão de Saúde orientada a Dados; Telemonitoramento