O município de Ourém, situado no nordeste Paraense, possui baixa densidade demográfica quando comparado a outros da região, neste sentido o mapeamento da área e identificação dos casos suspeitos da Covid-19 não eram considerados um entrave às ações das equipes de saúde. Porém, devido ao grande potencial turístico do município e à exploração de recursos minerais - atividades não suprimidas durante a pandemia -, existe fluxo intenso e constante de turistas e caçambeiros, possíveis vetores da doença. As barreiras sanitárias são consideradas mecanismos governamentais legais, restringem a circulação de animais, plantas e pessoas no intuito de prevenir a população contra a disseminação de pragas e doenças. No momento em que a transmissão ainda não era considerada comunitária no estado do Pará a implantação de barreiras mostrou-se de fundamental importância para o controle dessa população flutuante. Constituíam locais de registro e monitoramento de pessoas provenientes de outros lugares, munícipes e não munícipes, no entanto, sem restrição de acesso, configurando-as, dessa forma, barreiras epidemiológicas, através das quais era possível entender a movimentação do vírus neste espaço geográfico a partir da mobilidade humana.
Diagramar áreas iminentes ao risco de transmissão da Covid-19 Identificar indivíduos que possam estar expostos à contaminação Orientar as ações das equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) para o monitoramento decisivo e adequado dos casos Ajustar táticas de educação em saúde para atender às necessidades municipais.
As barreiras sanitárias, compostas por funcionários da Secretaria de Saúde, Assistência Social e Segurança Pública, funcionavam nas três principais vias de acesso à cidade, em dois turnos, manhã e tarde, com revezamento de equipes compostas por no máximo quatro pessoas. A abordagem consistia em orientações relativas a prevenção e transmissão viral, entrega de folder com contato para dúvidas e reporte de sintomas, verificação de temperatura e preenchimento de ficha contendo nome completo, telefone, endereço, cidade de procedência, motivo da viagem, apresentação ou não de sintomas e local de destino, em casos de transitação externa. Tais dados eram registrados em planilhas do Microsoft Office Excel e encaminhados diariamente via aplicativo de mensagens à ESF correspondente à residência indicada - o município conta com três localizadas na Zona urbana e quatro na Zona Rural -. Procedia-se o acompanhamento pelos enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde, através de ligação telefônica, nos casos assintomáticos, ou visita domiciliar nos sintomáticos, estendendo-se a todos os familiares e contatos.
As atividades ocorreram de vinte e três de março a trinta de junho, obtendo 2.123 registros, 2.024 encontravam-se nas áreas de abrangência das ESF’s, destes 86,4% permaneceram na zona urbana (49,4% no bairro do Porão, 22,6% no do Terminal e 14,5% no do Dom Elizeu) e 13,6% na zona Rural, 6,0% na Vila do Arraial do Caeté, 3,0% na do Puraquequarinha, 3,0% na do Rio Grande e 1,7% na do Tupinambá. Quanto ao local de origem, 37,0% das fichas preenchidas eram de pessoas que residiam ou se deslocavam ao município de Capitão-Poço, 20,6% ao de Capanema, 14,1% de pessoas que residiam ou se deslocavam a diversos municípios do Estado do Pará, 11,6% de Belém, 0,4% provenientes de outros Estados (SP, AP, GO, RJ, MT, MG, PI) e 1,8% não quiseram responder. O motivo da viagem era diverso, contudo, 33,2% das pessoas eram munícipes que retornavam à cidade por conta das medidas de isolamento adotadas no Estado, 12,5% foram para realizar serviços bancários, seja em Ourém ou nas cidades vizinhas, 9,2% a trabalho, 8,0% a passeio, 8,0% para fazer compras, 7,3% para visitar algum familiar, 3,6% alegavam resolver problemas pessoais, 3,0% buscavam assistência médica e 1,1% eram taxistas intermunicipais, 14,3% preferiram não responder o motivo. Relativo aos sintomas, 94,8% das pessoas disse estar assintomáticos, 1,6% informaram estar com os sintomas no momento da abordagem, 0,8% já ter tido Covid-19, 0,3% relataram não ter sintomas, porém tinham alguma morbidade, e 2,5% não responderam.
A combinação das ações das barreiras sanitárias e consecutivo monitoramento pelas ESF catalisou a compreensão de propagação do vírus por meio do comportamento populacional, levando à efetividade das ações de prevenção e promoção da saúde e ao controle decisivo dos casos da Covid-19 em Ourém/PA. As barreiras não impediram a introdução da enfermidade, mas configuraram importante ferramenta de orientação das equipes de saúde da família, possibilitando o mapeamento dos casos iniciais e dando suporte à educação em saúde.
Monitoramento espaço geográfico, comportamento populacional.