A COVID-19 é a doença causada pelo Coronavírus 2019 e tem como agente etiológico o SARS-CoV-2. O primeiro caso confirmado no município de São Leopoldo-RS ocorreu em março de 2020, e três meses depois já contabilizava mais de 1000 casos. Em setembro de 2020, São Leopoldo ocupou o quinto lugar entre os municípios com mais casos confirmados de COVID-19 no Estado do Rio Grande do Sul, com quase 6000 casos. O município possui apenas 39% de cobertura de atenção básica, o que torna desafiador qualquer ação que fortaleça a vigilância em saúde. Diante da perspectiva alarmante do cenário epidemiológico, a gestão municipal de saúde e a vigilância epidemiológica do município formularam um plano de enfrentamento à pandemia, que se inicia com a expressiva ampliação da equipe de vigilância municipal, perpassando por reuniões de planejamento semanais para criação estratégias de resposta rápida coerentes à realidade local. Surgiu a necessidade de criar um novo setor dentro da vigilância: o CMID – Centro de Monitoramento e Investigação Domiciliar, com o objetivo de orientar, acolher e acompanhar diariamente os pacientes suspeitos e confirmados, bem como realizar o rastreio e captação precoce de novos possíveis casos. Durante a pandemia, o município adaptou setores da área da saúde - incluindo a vigilância - visando agilizar alguns processos do município. A cada nova nota informativa que o estado emitia, a vigilância municipal adaptava-se para atender os novos critérios estabelecidos.
O CMID tem como objetivos:
- Ser formado por profissionais da própria rede de saúde municipal com experiência na assistência e sensibilizados com a temática;
- Contemplar a necessidade de afastamento da assistência direto ao paciente de alguns trabalhadores do grupo de risco com a conveniência da criação do CMID;
- Realizar diariamente uma ligação telefônica para todos os casos suspeitos e confirmados de coronavírus, a fim de acolher o indivíduo e famílias neste momento de angústia e medo;
- Na ligação, revisar se houve afastamento correto do caso suspeito e contatos domiciliares, servindo como elo entre o usuário e os serviços de saúde;
- Orientar o isolamento adequado, medidas de prevenção e higiene e identificação de contatos diretos.
- Fornecer o resultado do teste, mantendo o acompanhamento dos casos positivos durante quatorze (14) dias a partir do início dos sintomas, prolongando, se a condição clínica do paciente exigir.
Utilizamos a base de dados do município, que foi criada desde o primeiro caso suspeito e criamos uma ficha de notificação para que a vigilância pudesse alimentar o banco de dados. Nos primeiros casos suspeitos, a vigilância conseguia ligar ou enviar mensagens de texto para os pacientes e obter dados, bem como orientar sobre isolamento e tirar as dúvidas dos pacientes. O número de casos foi aumentado e a vigilância precisou aumentar a equipe, inicialmente composta de um dentista, uma médica, uma sanitarista e uma técnica de enfermagem. Foi criado, também, uma ficha de evolução para que a equipe do CMID pudesse deixar registrado o atendimento. Os integrantes do CMID receberam celulares com acesso à internet e, após um período, a equipe recebeu computadores no qual puderam trabalhar com uma planilha compartilhada e realizar a evolução de forma que todos pudessem olhar e acompanhar o atendimento do paciente. A demanda de atendidos pelo CMID aumentou e precisamos de mais profissionais para realizar os atendimentos, assim a equipe recebeu mais dois dentistas, duas enfermeiras, uma técnica de enfermagem e uma psicóloga para contribuir nas ações desenvolvidas.
Acreditamos que os resultados obtidos foram muito satisfatórios, já que nossos objetivos iniciais foram alcançados. Conseguimos, de certa forma, isolar o caso fonte, monitorar os seus familiares e com isso, evitar a propagação do vírus aos residentes do município de São Leopoldo. Além disso, o acolhimento dado aos casos suspeitos e seus familiares contribuíram para a difusão da informação correta recomendada pela OMS - Organização Mundial de Saúde. O monitoramento dos casos positivos permitiu que tivéssemos um maior controle do bem-estar do paciente e de seus familiares, mantendo o isolamento e cuidados de higiene para evitar a propagação do vírus. Outra importante contribuição do CMID foi a de orientar os pacientes, sanando suas dúvidas, em relação à higiene e medidas protetivas. Realizamos, também, orientações quanto a necessidade de um atendimento adequado evitando, assim, uma superlotação em lugares onde não era necessário, como, por exemplo, hospitais e UPA - Unidade de Pronto Atendimento. Destacamos que a utilização de planilhas digitais e de acesso compartilhado permitiram que a gestão acessasse plenamente as ações desenvolvidas pelo CMID. Este acesso tem relação direta com as estratégias traçadas pela Secretaria Municipal de Saúde de São Leopoldo.
Primeiramente, destaca-se que a criação de um setor especializado no monitoramento, aconselhamento e acolhimento de casos suspeitos de COVID-19 garantiu que a vigilância de saúde estivesse presente de forma ainda mais efetiva e participativa na vida da população. A organização dos dados no formato compartilhado configurou uma importante aprendizagem por parte dos integrantes do CMID, já que, anteriormente, tais informações eram feitas manualmente. Acredita-se que esse formato digital seja um otimizador na organização e, portanto, esse conhecimento será estendido para outros setores da vigilância. A participação ativa da gestão em conjunto com a vigilância contribui positivamente na intervenção realizada junto à população, tornando tais ações mais acessíveis. Uma conclusão subjetiva, porém necessária de ser explanada diz respeito à forma como a população se sentiu com o acompanhamento recebido. Percebeu-se que a população se sentiu acolhida em um momento de extrema fragilidade: na suspeita e, em alguns casos, na confirmação da infecção de um vírus novo. A orientação dada pelos integrantes do CMID contribuiu, inclusive, na não propagação de informações equivocadas que, por vezes, a população recebia de setores não especializados.
MONITORAMENTO, VIGIL NCIA, CONTATO, CASO FONTE, ACOLHIMENTO