O contexto de pandemia requer maior atenção ao trabalhador de saúde: ele está mais sujeito a ter sua saúde mental afetada, seja por situações vivenciadas direta ou indiretamente. É recorrente o aumento dos sintomas de ansiedade, depressão, perda da qualidade do sono, aumento do uso de drogas lícitas ou ilícitas, sintomas psicossomáticos e medo de se infectarem ou transmitirem a infecção aos membros da família. Gerenciar o estresse e bem-estar psicossocial é tão importante neste momento quanto cuidar da saúde física. Manter a equipe protegida contra estresse crônico e problemas de saúde mental significa que eles terão uma melhor capacidade para desempenhar suas funções. (Fiocruz, 2020) Desse modo, pensando nas necessidades dos trabalhadores da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, a Gerência de Atenção Psicossocial (GAP) vem apresentar a proposição de algumas linhas de ação voltadas para atenção e cuidados dos trabalhadores que vêm atuando no enfrentamento a pandemia e que porventura apresentem sofrimento mental em decorrência da sua atuação profissional. O presente projeto visa apontar ações que possam alcançar os trabalhadores, respeitando-se as orientações quanto ao distanciamento social, mas apontando para a construção de espaços de acolhimento das demandas de sofrimento desses profissionais. A proposta contou com a parceria do Serviço de Atenção à Saúde do Servidor (SASS) e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST).
Objetivo Geral: • Ofertar cuidado em saúde mental aos trabalhadores vinculados a Secretaria Municipal de Saúde que atuam no enfrentamento a COVID – 19 ou que estão em situação de sofrimento psíquico por fatores eliciados por situações derivadas da pandemia. Objetivos Específicos: • Criar um canal de comunicação virtual para recebimento de demandas de saúde mental dos trabalhadores da saúde; • Construir um instrumento de triagem para identificação das principais demandas do atendimento; • Organizar um fluxo para encaminhamento das necessidades em saúde mental desses trabalhadores (linha de cuidado emergencial); • Pactuar os serviços de referência e as vagas destinadas para esses trabalhadores, no caso de necessidade de assistência presencial; • Criar uma colegiado de gestão interno, composto pelos setores GAP, SASS e CEREST para pactuações e fluxos das demandas identificadas.
Comunicação: A principal estratégia para alcance dos trabalhadores de saúde da SMS com demandas para o cuidado em saúde mental. O canal de comunicação utilizado será via endereço eletrônico (e-mail) e telefone, com capacidade de retorno ao trabalhador em até 24 horas ou 1º dia útil posterior ao recebimento da demanda. Adoecimento mental grave e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas: A ação deverá estar pautada em ações de redução de danos e avaliação das demandas de atenção à crise, com a oferta de orientações e encaminhamentos aos serviços de referência (CAPS e CAPS ad 24 horas), caso necessário. Afastamento por adoecimento mental no período da pandemia: Identificação através do setor de Recursos Humanos dos profissionais que solicitaram afastamento devido ao quadro de adoecimento mental nesse período. Atendimento Psicológico on-line (individual): Estabelecimento de profissionais de referência que estarão responsáveis pelo atendimento dos trabalhadores quando necessário (canal ou plataforma on-line de atendimento), organizados de acordo com as prerrogativas do Conselho Federal de Psicologia quanto ao trabalho com profissionais nessa modalidade. Estrutura Operacional: Realização dos cadastros dos profissionais que serão convocados para atendimento aos trabalhadores da saúde, das unidades de referência e criação do canal ou plataforma on-line de atendimento.
Após a divulgação do serviço na mídia e redes sociais, foi iniciado o atendimento no dia 30 de junho de 2020, o teleatendimento voltado para à assistência psicossocial dos trabalhadores da Secretaria Municipal de saúde de Maceió. O serviço fica disponível de segunda à sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h, por meio do telefone 3312-5410. São 10 (dez) psicológos que se revezam em turmos de 6 (seis) horas para realizar o atendimento. Contamos com profissionais da Rede de Atenção Psicossocial, Serviço de Atenção à Saúde do Servidor (SASS) e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST e do setor de Gestão de pessoas. A adesão foi relativamente pequena, no entanto todas as pessoas que acionaram o teleatendimento tiveram suas demandas atendidas, desde a escuta qualificada até o encaminhamento para atendimento presencial nos casos mais graves. Desse modo, observamos que demandas apresentadas, como: a ansiedade e os receios em levar a doença para casa, colocando em risco seus familiares foi uma das falas mais recorrentes. A busca pelo profissinal da psiquiatria traz a tona o risco do aumento exponencial da medicalização de transtormos mentais desenvolvidos pela atuação nos espaços de trabalho.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. No caso dos profissionais de saúde que tiveram que atuar no enfrentamento da COVID-19, o isolamento social ou quarentena não era uma opção possível. Desse modo, manter o bem estar mental está sendo um grande desafio. Neste momento, a situação de crise se soma à sobrecarga de trabalho, a preocupação com a falta de recursos, às equipes reduzidas - devido ao afastamento de alguns servidores por conta dos decretos, a reorganização dos processos de trabalho trouxeram um contexto de risco que pode trazer o compromentimento a saúde mental destes profissionais. O alto número de afastamentos em decorrência de situações que envolvem questão da saúde mental do trabalhador identificados pelo setor de gestão de pessoas e a baixa adesão ao atendimento ofertado pode ser avaliada por diversos espectros, pois trazem à tona a necessidade de maior investigação e intervenções sobre essa temática junto aos tralhadores, visto que essa temática ainda é permeada por preconceitos.
Saúde mental, trabalhadores da saúde, teleatendimento