Segundo a OMS, anualmente, cerca de 5 milhões de pessoas morrem por doenças relacionadas à elevada carga tabágica no mundo e, no Brasil, aproximadamente, 200 mil. Apesar dos dados alarmantes de doenças que estão relacionadas ao fumo de tabaco, ainda observa-se um número alto de consumidores de tabaco, bem como grande variedade de opções que são ofertadas no mercado como narguilé e cigarros com diferentes odores e sabores, propiciando a entrada para a dependência química. Os benefícios adquiridos por quem cessa o fumo são imediatos e grande aliados ao Grupo Tabagismo, disponibilizado no CAPSad Estação Vicente Araújo, em Recife e, durante o período de Pandemia, precisou redirecionar sua prática para os atendimentos on-line, devido ao aumento de crises de ansiedade, pânico, depressão, dentre outros transtornos. No período de março a julho, houve a suspensão das atividades presenciais, prevenindo a disseminação do COVID-19. O grupo é composto por 12 dependentes de tabaco, maiores de 18 anos e parte deles já apresenta comorbidade pelo uso da droga. Essa experiência mostrou a importância do suporte emocional nas ações voltadas às pessoas que querem parar de fumar, principalmente, num período de alta mobilização de sentimentos e emoções que, quando não manejados da forma correta, podem gerar sérias consequências para saúde física e mental dos indivíduos, inclusive, para os envolvidos nesse grupo, tendo em vista a forma inesperada e abrupta de interrupção do acompanhamento coletivo.
• Compartilhar a experiência imposta pelas contingências do momento da pandemia; • Demonstrar a mobilização da equipe para buscar novas formas de fazer prático para a garantia da atenção à saúde das pessoas envolvidas no Grupo Tabagismo; • Garantir a continuidade do cuidado, que é fundamental para o alcance dos objetivos propostos no grupo, tanto os individuais quanto os coletivos; • Apresentar o suporte ofertado nessa modalidade de assistência, inserindo ao contexto os cuidados necessários para evitar a contaminação pelo covid19, tendo em vista os riscos e vulnerabilidades impostas pelos hábitos durante o ato de fumar.
Percebemos a necessidade de continuidade no cuidado dessas pessoas do Grupo Tabagismo diante de suas demandas e pelo aparecimento e/ou aumento de sintomas advindos com a pandemia do COVID-19 que geraram o aumento do consumo e a desmotivação para a continuidade do que já haviam conseguido, entre redução e suspensão do uso. Apesar de darmos continuidade às consultas psiquiátricas nesse período e à dispensação de medicações para os que estavam em uso, identificamos a necessidade de um acompanhamento mais sistemático pela equipe que coordena os trabalhos desse grupo. Isso foi realizado através de vídeos chamadas, para aqueles que tinham os recursos necessários e da intervenção presencial com atendimentos individualizados para aqueles que não dispunham de recursos digitais, quinzenalmente, aproveitando sua já programada ida ao serviço para suas medicações quinzenalmente, como também oferecendo suporte por ligações telefônicas, aos que por conta de terem comorbidades graves e sendo do grupo de risco para a COVID-19, não puderam se fazer presente de alguma forma ao tratamento. Sabendo que por serem tabagistas, poderiam se expor de forma mais frequente pelo uso do tabaco e pelos hábitos relacionados ao uso da substância, procuramos criar estratégias de forma individualizada de proteção aos riscos de contaminação pela COVID-19.
Diante da possibilidade de continuidade do cuidado e manutenção do vínculo de forma adaptada, observamos que, apesar das dificuldades enfrentadas durante o período de isolamento na pandemia, que provocou agravamento de alguns transtornos pré-existentes ou o aparecimento de novos, houve boa adesão à continuidade do tratamento e grande mobilização adaptativa e resiliente da equipe profissional envolvida. Essa mobilização foi implantada buscando minimizar medos, angústias e sofrimentos pela incerteza de sobrevivência devido ao pânico causado por estarem no grupo de risco e pelo desfecho dos casos que vinham sendo vivenciados em seus meios sociais, bem como os apresentados pela mídia. O retorno das atividades presenciais ocorreu no fim de julho, mantendo o formato de grupo, mas dividido e com esquema de alternância semanal da presença de seus integrantes e obedecendo o distanciamento social e uso de máscara, necessários para garantia da segurança de todos. Quatro usuários não tiveram condições de retornar à modalidade presencial, diante disso, sua continuidade de cuidado é garantida através de ligações telefônicas sistemáticas. Os êxitos podem ser facilmente percebidos ao analisarmos a continuidade dos processos individuais de cessação do uso, como também de redução do número de cigarros/dia. Além disso, os usuários relataram à equipe o suporte ofertado durante o período de isolamento foi determinante em seus processos terapêuticos e de cuidado em relação à sua saúde mental.
O olhar singular de uma equipe comprometida em cuidar com equidade, fez e faz toda a diferença em nossa prática cotidiana no SUS. Observar a singularidade do sujeito e seus recursos internos e externos, traz novas possibilidades para ampliarmos nosso cuidado para além dos muros do serviço de saúde. O reconhecimento, através dos resultados que observamos, nos mobiliza para que continuemos nessa direção, fortalecendo nossa prática e garantindo a acessibilidade e equidade no cuidado à saúde, mostrando que o SUS tem sua potencialidade de fazer a diferença sempre na vida dos cidadãos.
Saúde mental; Pandemia, Infecção por coronavírus; Tabagismo; Serviços de Saúde mental; Atenção à saúde.